Jan 8 / Victor Arduin

Relatório Semanal Energia - 2024 01 08

Maior oferta tem os efeitos dos conflitos no Oriente Médio

  • Difíceis de prever, as tensões geopolíticas no Oriente Médio têm sido uma das principais forças motrizes por de trás de alguns aumentos do petróleo.
  • Entretanto, a demanda continua mostrando sinais de menor resistência, principalmente nos Estados Unidos, onde os estoques de produtos refinados aumentaram significativamente na semana passada.
  • Diante da alta volatilidade, o mercado tem se poscionado com o WTI acima dos US$ 70 o barril, mas não encontra entusiasmo para um patamares acima de US$ 75.

Introdução

Um dos maiores campos de petróleo da Líbia, o campo de Sharara, foi bloqueado na semana passada pelos manifestantes do país, o que levou a um aumento nos preços do petróleo bruto. Agora, a produção de 300.000 barris de petróleo por dia está ameaçada, introduzindo um fator de alta no mercado.

Enquanto isso, as tensões no Mar Vermelho estão aumentando o risco de interrupções nos suprimentos globais, principalmente após a chegada do navio de guerra iraniano à região. Essa rota marítima é vital para o comércio global e o alto volume de transporte de petróleo.

Mais uma vez o mercado se vê em um momento altista, com preços reagindo diretamente a preocupações com à oferta. Entretanto, é importante observar que há muita incerteza, especialmente à luz dos dados da EIA que revelaram um acúmulo significativo nos estoques de produtos refinados nos Estados Unidos.
Figura 1: Principais preços de referência do petróleo bruto (USD/bbl)

Fonte: Refinitiv

Figura 2: Exportações mensais de petróleo bruto da Líbia (milhões de bpd)

Fonte: Refinitiv

Os preços do petróleo enfrentam volatilidade devido aos protestos na Líbia e ao aumento das tensões no Oriente Médio

Antes de mais nada, é necessário reconhecer que os desafios políticos na Líbia são significativos. O fechamento de seu principal campo de petróleo, capaz de produzir 300.000 barris de petróleo por dia, aumentou o risco de menor disponibilidade de petróleo bruto. Além disso, as tensões crescentes no Mar Vermelho, decorrentes do conflito entre Israel e o Hamas, aumentam a possibilidade de interrupções no fornecimento de petróleo.

Entretanto, esses eventos trazem mais volatilidade do que confirmação para um mercado em alta. Há uma quantidade crescente de petróleo sendo produzida, o que reduz o déficit atual do mercado e compensa os riscos mencionados acima. A Rússia exportou cerca de 3,78 milhões de bpd na última semana de 2023, um nível não visto desde julho. A Venezuela, um país anteriormente sancionado pelo Ocidente, aumentou suas exportações em 12% em 2023, para aproximadamente 700.000 barris por dia.

Figura 3: Rússia - Exportações semanais de petróleo bruto (milhões de bpd)

Fonte: Bloomberg

Embora a produção esteja aumentando globalmente, ainda há uma incerteza considerável sobre a demanda de energia nas principais economias do mundo, o que normalmente resulta em um sentimento baixista em relação ao mercado. Por exemplo, na semana passada, houve um aumento de mais de 10 milhões de barris nos estoques de gasolina e óleo para aquecimento nos Estados Unidos, indicando que as refinarias podem precisar de menos petróleo bruto nas próximas semanas.
Dito isso, é importante reconhecer que 2024 pode ser altista.

A perspectiva de cortes nas taxas de juros em março deste ano deve impulsionar as commodities de energia. Como o complexo energético geralmente reflete as tendências macroeconômicas, um ciclo monetário menos restritivo será um fator de apoio para os preços. Além disso, o desempenho histórico recente do WTI mostrou forte suporte em US$ 70. Portanto, as evidências técnicas mostram que o petróleo não cairá para níveis muito mais baixos do que os atuais, pelo menos não agora.

Figura 4: EUA - Variação semanal produtos refinados (milhões de bbl)

Fonte: Refinitiv

Em Resumo

Embora as tensões no Oriente Médio e, mais recentemente, na Líbia apresentem riscos de interrupções no fornecimento, proporcionando mais espaço para o mercado se posicionar a favor de um aumento no preço do petróleo, os dados continuam mostrando que há muita incerteza em relação à demanda, como visto no exemplo dos estoques americanos que aumentaram significativamente na última semana de 2023.

Outros fatores também tem contribuído para o lado baixista, reduzindo os riscos de uma falta de abastecimento. A Rússia e a Venezuela, importantes produtores de petróleo, estão aumentando suas exportações. Vários países surpreendem com produções signicativas como Estados Unidos e Brasil que terminaram ano passado com a maior produção de petróleo da sua história.

Em outras palavras, há cada vez mais petróleo disponível no mercado e a demanda tem crescido em um ritmo mais lento do que o projetado. Nesse sentido, talvez o esperado corte na taxa de juros a partir de março possa incentivar o mundo a aumentar o consumo de energia, algo fundamental para impulsionar preços do petróleo.

Relatório Semanal — Energia

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Livea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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