Jan 22 / Victor Arduin

Relatório Semanal Energia - 2024 01 22

Em mercados voláteis, o clima também influencia os preços do petróleo

  • A Dakota do Norte tem recebido atenção especial do mercado; as baixas temperaturas têm afetado a produção de petróleo e gás no estado, aumentando a percepção de um balanço mais apertado nos EUA.
  • Além disso, as tensões no Oriente Médio continuam crescendo com a escalada da crise do Mar Vermelho e o conflito aberto entre o Irã e o Paquistão.
  • Como resultado desses eventos, os principais índices de referência fecharam a semana com ligeiros ganhos, com o WTI encerrando a US$ 73,41 (+1,0%) e o Brent a US$ 0,27 (+0,34%).

Introdução

Uma das principais contenções contra as restrições de fornecimento da OPEP+ em 2023 foi o aumento da produção de petróleo de países não membros, sendo um dos mais significativos os Estados Unidos. Com mais petróleo disponível no país, houve menos necessidade de importação.

No entanto, o inverno rigoroso está reduzindo essa disponibilidade, com a Dakota do Norte perdendo aproximadamente 650 mil barris por dia (bpd) da sua produção. Além disso, as tensões no Oriente Médio seguem aumentando a sensação de risco de interrupção do abastecimento mundial. Esses eventos estão fortalecendo o backwardation nos principais índices de referência do petróleo.
Figura 1: EUA - Estoques comerciais de petróleo bruto (milhões de bbl)

Fonte: Bloomberg

Figura 2: RBOB - Spread entre o 1° e 2° mês (USD/gal)


             Fonte: Refinitiv

Clima extremo afeta a produção de petróleo bruto na Dakota do Norte

As baixas temperaturas se tornaram um novo fator de volatilidade no mercado, levando a preços mais altos em todo o complexo energético. Esse sentimento de alta foi impulsionado pela redução de 50% na produção de petróleo bruto em Dakota do Norte, aproximadamente 650.000 bpd de sua produção típica de 1,24 milhão de bpd de petróleo.

A produção de gás natural, essencial para a rede elétrica do país, também foi duramente atingida. O clima frio congelou os poços de gás, causando a menor produção em 11 meses na semana passada. A recuperação aos níveis normais pode levar mais um mês. Isso levou o balanço energético um pouco mais em direção ao déficit, provavelmente pressionando os estoques de petróleo bruto e aumentando as retiradas do armazenamento subterrâneo de gás nos Estados Unidos.

Figura 3: Spread WTI 1° - 2° mês (USD/bbl)

Fonte: Refinitiv, hEDGEpoint

À medida que os estoques físicos diminuem, os preços dos contratos futuros próximos ficam mais caros, o que é conhecido como backwardation. Enquanto o WTI reflete os riscos de perdas de produção devido às baixas temperaturas, o Brent vem sofrendo com as tensões geopolíticas no Mar Vermelho.

E aqui vale a pena observar um risco significativo para o mercado. Se, por um lado, o primeiro deve ser reduzido com o fim do inverno, por outro lado, os conflitos no Oriente Médio podem durar mais tempo, o que deve resultar em um backwardation mais forte para o Brent em comparação com seu para dos EUA, o WTI.

Figura 4: Spread Brent 1° - 2° mês (USD/bbl)

Fonte: Refinitiv

Conflito no Mar Vermelho traz mais volatilidade ao mercado de petróleo bruto

Enquanto isso, o aumento dos custos de transporte marítimo já é uma realidade, podendo alimentar pressões inflacionárias, já que grande parte do comércio global passa próxima ao Mar Vermelho. Apesar da maioria dos navios ainda usar a rota, há empresas que estão enviando suas embarcações para navegar ao redor do Cabo da Boa Esperança, no sul da África, o que acaba gerando mais custos e viagens mais longas.

Isso está afetando a competitividade do Brent, onde o prêmio do contrato do primeiro mês em relação ao segundo mês subiu para mais de US$ 0,30 na última sexta-feira. Portanto, gradualmente, as refinarias europeias estão vendo suas margens serem exprimidas com o aumento dos custos. Um desafio adicional para um continente que está lidando com altas taxas de juros, demanda reduzida e risco de recessão.

Figura 5: Taxa de referência de frete de contêineres da WCI por caixa de 40 pés (USD)

Fonte: Bloomberg

Em Resumo

As reduções temporárias na produção de petróleo e gás são um alívio para os países exportadores, que vêm lutando para sustentar seus preços. As temperaturas frias serão uma variável importante a ser observada nas próximas semanas, que caso perdurarem por mais tempo do que esperado, deverão oferecer mais suporte ao complexo energético.

Contudo, elas devem reduzir a mobilidade, contribuindo para a formação de estoques de produtos refinados, algo que deverá impactar os cracks da gasolina e heating oil (diesel) durante as próximas semanas. Futuros do gás natural podem se beneficiar, mas os amplos estoques devem limitar os ganhos.

Portanto, as frias temperaturas parecem ser um novo catalisador de volatidade para o complexo energético, alimentando um sentimento mais altista nas próximas semanas. Se produtos como petróleo e gás natural podem tirar vantagem desse cenário, o mesmo não se pode dizer da gasolina que deverá ter mobilidade restringida pelo frio.

Relatório Semanal — Energia

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Livea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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