Mar 25 / Victor Arduin

Relatório Semanal Energia - 2024 03 25

Após ganhos, o petróleo encontrará mais resistência para se valorizar

  • O petróleo se beneficiou nas últimas semanas de várias notícias altistas para o complexo energético, como as revisões do PIB global, os estímulos na China e os prêmios geopolíticos do Médio Oriente e da Europa.
  • Uma vez atingidos os níveis atuais, o WTI e o Brent enfrentarão maior resistência à uma valorização. Uma das razões é o fato do dólar continuar bastante forte, mesmo diante a possibilidade de cortes nas taxas de juro nos EUA, o que torna mais caro para os detentores de outros moedas comprarem petróleo.
  • Outro fator é que os preços mais elevados também incentivam o aumento da produção, tanto de países fora da OPEP como dos próprios países da OPEP. Apesar dos esforços conjuntos da organização para restringir a oferta de petróleo, muitos países estão operando abaixo das suas quotas.
  • A possibilidade de uma correção dos preços do petróleo nas próximas semanas representa uma oportunidade para os cracks da gasolina, uma vez que este produto tem se valorizado diante da maior mobilidade nos EUA.

Introdução

Mais uma vez, observamos como os ativos do setor energético são voláteis, alterando rapidamente a sua dinâmica de preços em resposta a novos desenvolvimentos que alteram o sentimento de traders e investidores. Se no início do ano o WTI negociava perto dos $70,00 por barril, refletindo preocupações com a redução da procura e um excesso de oferta no mercado, essa realidade parece agora bastante distante com os benchmark do petróleo americano ultrapassando a marca dos $80,00 desde a semana passada e mantendo este nível durante sete sessões de negociação.

As revisões de alta das previsões do PIB global do FMI (3,2%) e da OPEP (2,8%), juntamente com os estímulos fiscais e monetários da China, estão reforçando a expetativa por mais demanda de energia para 2024, indicando um aumento da procura de petróleo. No entanto, é provável que o Brent e o WTI encontrem resistência para ultrapassar os seus níveis atuais. Este será o foco do nosso relatório: apresentar os principais fundamentos que influenciaram os preços do petróleo e destacar os desafios para sua valorização.
Figura 1: Principais Referências de Petróleo Bruto (US$/bbl)

Fonte: Refinitiv

Figura 2: Contratos WTI (US$/Spread)

Fonte: Refinitiv

As revisões de demanda melhoram o sentimento de alta em relação ao petróleo

Os primeiros meses do ano revelaram notícias mais otimistas para o petróleo. A Agência Internacional de Energia (AIE) aumentou as suas estimativas de procura para o 1T2024 para 1,7 milhões de bpd (+270.000), a OPEP prolongou os seus cortes de produção até meados do ano e a China deu sinais de estar mais disposta a utilizar estímulos fiscais e monetários para apoiar a sua economia. Isto sem mencionar as baixas temperaturas de janeiro e fevereiro que causaram algumas interrupções na produção de petróleo e gás nos Estados Unidos. A combinação de uma demanda maior do que as projeções e uma oferta inferior à prevista resultou num sentimento mais altista em relação ao petróleo. Como resultado, os principais índices de referência do petróleo estão mostrando um aumento significativo em 2024, com o WTI a 10,93 dólares (+15,5%) e o Brent a 10,11 dólares (+13,32%). Desde meados de fevereiro, o WTI entrou em backwardation, o que indica uma maior procura imediata do mercado.

Essas mudanças não passaram despercebidas pelo mercado. Enquanto o aumento do interesse aberto (a soma das posições compradas e vendidas) para o WTI foram moderadas, pouco acima de 3% para este ano, o Brent registou um aumento substancial (+11%), atingindo o seu nível maior nível desde novembro de 2021. No entanto, será difícil para o petróleo ultrapassar os níveis atuais. É importante considerar que os preços mais elevados do petróleo incentivam o aumento da produção. Apesar dos esforços conjuntos da OPEP para restringir a produção, há membros, como a Nigéria, que estão operando abaixo das suas quotas. Portanto, seguindo o exemplo de dados de fevereiro de 2024, quando a produção da OPEP aumentou em 203.000 bpd para 26,57 milhões de bpd, podemos ver maior oferta de alguns membros da organização nos próximos meses.

Figura 3: Interesses abertos do WTI e do Brent (contratos de 1000 barris)

Fonte: CFTC, ICE

O dólar é um fator de resistência fundamental para a procura de petróleo

Embora os ativos de risco estejam se beneficiando das perspectivas de cortes nas taxas de juro nos Estados Unidos em junho deste ano, as commodities, em geral, ainda não estão capturando este ambiente de menor aversão ao risco. O índice Bloomberg Commodities caiu mais de -12% em 2023, e este ano está registrando ganhos de 0,4%. Até agora, o petróleo tem se beneficiado dos prêmios geopolíticos, como o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a evolução da guerra entre Israel e o Hamas no Oriente Médio. No entanto, os níveis historicamente elevados do dólar estão dificultando uma maior procura de ativos energéticos. Os detentores de outras moedas tendem a comprar menos ativos transacionados na moeda americana e, como a maior parte das matérias-primas energéticas são cotadas em dólares, isto exerce uma pressão baixista adicional no nos preços do petróleo.

Se neste momento há menos espaço para a valorização do petróleo, o mesmo não se pode dizer dos produtos derivados, em especial a gasolina. Fatores sazonais estão contribuindo para valorização do RBOB, o contrato de referência para a gasolina no mercado, com a aproximação da driving season e o aumento da mobilidade devido ao fim do inverno, para além das alterações de especificação com vista a cumprir a regulamentação ambiental dos EUA durante o verão. O crack spread da gasolina, ou seja, a diferença entre o valor do produto refinado e o custo do petróleo, indicador das margens das refinarias, já aumentou mais de 16 dólares por barril desde o início do ano. Se os preços do petróleo caírem nas próximas semanas, isso representará uma oportunidade para os cracks da gasolina e as margens das refinarias.

Figura 4: Cracks para RBOB e HO (US$/bbl)

Fonte: Refinitiv

Em Resumo

Alguns outros fatores estão contribuindo para a volatilidade baixista do complexo energético esta semana. Estão em curso conversas de cessar-fogo na Faixa de Gaza, o que reduziria os prémios geopolíticos, particularmente no Brent. Além disso, vimos uma redução na demanda de gasolina nesta semana, caindo abaixo de 9 milhões de barris, consequentemente diminuindo o sentimento para a demanda de petróleo.

No entanto, neste momento, estamos assistindo outra correção natural após fortes ganhos nas últimas semanas. Os preços atuais já refletem as notícias altistas das últimas semanas, como a revisão do PIB mundial e os estímulos da China.
Sem uma desvalorização mais pronunciada do dólar, algo que pode levar algum tempo para acontecer, uma vez que, mesmo com cortes nas taxas de juro nos EUA, podemos assistir a uma revalorização do dólar, há pouco espaço para uma valorização mais pronunciada dos índices de referência do petróleo.

Ainda assim, o momento atual apresenta oportunidades para o complexo energético. Enquanto os destilados médios perderam suporte, devido à redução das necessidades de aquecimento e a uma lenta e gradual recuperação da demanda de diesel, cracks do RBOB mostram potencial para ganhos nas próximas semanas.

Relatório Semanal — Energia

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Laleska Moda
laleska.moda@hedgepointglobal.com

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