Oct 9 / Victor Arduin

Com redução dos riscos geopolíticos, preços do petróleo podem cair

Com redução dos riscos geopolíticos, preços do petróleo podem cair

  • Apesar das fortes expectativas de aumento dos preços do petróleo bruto nas últimas semanas, um cenário diferente está se desenrolando no cenário das commodities de energia.
  • A política de corte de produção da OPEP+ teve impacto sobre os estoques globais de petróleo, com a Arábia Saudita liderando os esforços por meio de cortes voluntários de 1 milhão de barris por dia.
  • Entretanto, em um cenário de difícil cooperação entre seus membros, mais petróleo pode retornar ao mercado, resultando em uma tendência de baixa para 2025. Não apenas a OPEP+ está aumentando sua capacidade de produção, mas outros países, como Brasil, Canadá, EUA e Guiana, também estão contribuindo.
  • Em termos macroeconômicos, os dados do mercado de trabalho estão aumentando a incerteza em relação ao próximo corte da taxa de juros nos EUA, o que traz suporte para o dólar e pode afetar a demanda futura por petróleo bruto.

Introdução

Nos últimos dias, o preço do petróleo teve uma recuperação impressionante, com o mercado precificando um prêmio de risco maior devido aos conflitos entre Irã e Israel. O Oriente Médio, região que abriga os principais produtores de petróleo, tem sido uma fonte significativa de volatilidade para o complexo energético.

Entretanto, observando a dinâmica da oferta e da demanda, há fundamentos de baixa que podem ganhar força nos próximos meses. Há uma capacidade ociosa significativa entre os países da OPEP, o que pode trazer maiores volumes de petróleo para o mercado a partir de dezembro. Por exemplo, a China continua trazendo incerteza com relação ao crescimento do consumo de energia para 2024 e 2025, enquanto os dados do mercado de trabalho dos EUA lançam dúvidas sobre o ritmo dos cortes das taxas de juros na maior economia do mundo.

Portanto, neste relatório, discutiremos a possível correção dos preços do petróleo se não houver danos substanciais à produção e às exportações de petróleo no Oriente Médio.
Figura 1: Benchmarks de petróleo bruto (US$/bbl)

Fonte: Refinitiv

Figura 2:  EUA - Reservas totais de petróleo bruto (milhões de barris)

Fontes: CFTC, ICE, Refinitiv
 Obs: Posição líquida não comercial de petróleo bruto (1.000 contratos)

Antes a principal força motriz do mercado, ela agora apresenta riscos de baixa

Como mencionamos em um relatório anterior, a política de corte de produção da OPEP+ tem sido a principal força motriz do complexo energético, exercendo uma pressão significativa sobre os estoques globais de petróleo. A Arábia Saudita, um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, tem sido uma peça fundamental nessa estratégia, com cortes voluntários de 1 milhão de barris por dia.

Por um lado, a estratégia conseguiu manter os preços em níveis mais altos, mas, por outro, teve um custo significativo em termos de volume para a Arábia Saudita, que viu sua participação no mercado diminuir desde o ano passado. Não apenas os membros não pertencentes à OPEP ganharam mais participação no mercado durante esse período, mas também os membros da OPEP que não cumpriram totalmente suas cotas estipuladas, como o Iraque, o Cazaquistão e a Rússia.

Em um cenário de difícil cooperação entre seus membros, a OPEP+ está se preparando para reduzir gradualmente seus cortes de produção, permitindo que mais petróleo retorne ao mercado. Se a cooperação entre os membros enfraquecer ainda mais, a Arábia Saudita - que arcou com o maior custo em termos de volume sob a atual política de produção - poderá optar por uma guerra de participação de mercado, aumentando os riscos de baixa para o complexo petrolífero e seus derivados.

Figura 3: Produção de petróleo bruto (milhões de b/d)

Fonte: Bloomberg

O preço do petróleo pode cair nas próximas semanas

Se os fundamentos do mercado de petróleo já representam riscos baixistas para o complexo energético, a macroeconômica está acrescentando mais incertezas. O Federal Reserve (Fed) reduziu as taxas de juros em 50 pontos-base em sua última reunião, citando preocupações com o mercado de trabalho. Entretanto, os dados mais recentes da folha de pagamento sugerem que a economia ainda está bem, com 100.000 empregos a mais do que o esperado. Se a inflação não mostrar sinais de abrandamento em outubro, é muito provável que o FOMC opte por um corte menor na taxa de juros, o que poderia fortalecer o dólar e afetar a demanda por commodities.

Analisando o contexto atual, a manutenção dos ganhos dos preços do petróleo dependeria de uma escalada do conflito em curso no Oriente Médio (o que não ocorreu até o momento). Por exemplo, danos significativos à infraestrutura de energia da região, causando uma interrupção no fornecimento. Embora essa possibilidade seja pequena, ela representaria um grande impulso de alta para os preços.

Sem a percepção desses riscos, o preço do petróleo e de outros derivados pode sofrer uma correção nas próximas semanas, especialmente durante a temporada de manutenção nos EUA.

Figura 4: Exportações de petróleo bruto da OPEP no Oriente Médio (M b/d)

Fontes: EIA

Em Resumo

Os riscos geopolíticos foram, nas últimas duas semanas, o principal fator de alta no petróleo, que voltou a atingir 80 dólares por barril, mas já enfrenta correções devido aos fundamentos baixistas existentes no mercado.
Embora a OPEP+ tenha sido uma importante força motriz na manutenção dos altos preços do petróleo nos últimos anos, sua estratégia está se tornando menos eficaz.

Um dos principais fatores que contribuem para o sentimento mais pessimista do mercado é o declínio contínuo das importações na China em comparação com o ano passado. As refinarias privadas do país, conhecidas como "bules", têm operado em níveis baixos, destacando os desafios do consumo de combustível na economia chinesa.

Nos EUA, há um aumento nos estoques totais de petróleo (reservas estratégicas e comerciais), o que reduz a sensação de aperto. Além disso, os dados do mercado de trabalho apoiam o dólar, o que pode afetar a demanda de petróleo nos próximos meses, já que um dólar americano mais forte torna o petróleo e seus derivados mais caros para os detentores de outras moedas.

Nesse cenário, há potencial para uma desvalorização dos preços do petróleo à medida que os riscos geopolíticos se dissipam e o mercado começa a se concentrar mais nos fundamentos da oferta e da demanda no complexo energético.

Relatório Semanal — Energia

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Laleska Moda
laleska.moda@hedgepointglobal.com

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