Não é nenhuma surpresa que os preços do trigo estejam em uma tendência baixista. Os preços futuros nos EUA estão perto das mínimas de quatro anos, e o último WASDE trouxe estoques finais muito mais confortáveis, tanto no cenário americano quanto no global.
Além disso, as perspectivas para as safras de primavera no hemisfério norte e no hemisfério sul continuam apontando para bons rendimentos e produção, já que as condições das safras estão acima da média na maioria dos países.
No entanto, mesmo com os recentes ajustes nas estimativas do USDA, a relação estoque/uso de trigo global em 24/25 ainda deve ser a mais apertada desde 13/14, portanto, em algum momento a demanda deve retornar. E a semana passada trouxe alguns sinais de que o atual nível de preços é confortável para os compradores.
A semana passada foi marcada por grandes licitações de alguns dos principais importadores de trigo. Estima-se que a agência estatal de grãos da Argélia, OAIC, tenha comprado entre 700.000 e 750.000 toneladas de trigo – muito acima da media de 170.000 mil toneladas dos tenders dos últimos 3 anos - para moagem em uma licitação internacional na última quarta-feira (17).
As compras da Argélia em licitações são de origem opcional, mas o mercado acredita que esse trigo venha em grande parte da região do Mar Negro, incluindo Rússia, Ucrânia e Bulgária. A Argélia é um cliente importante para o trigo da União Europeia, especialmente da França, mas os exportadores russos têm crescido fortemente no mercado argelino.
O Egito também foi ao mercado. O comprador estatal de grãos do Egito comprou 770.000 toneladas de trigo, principalmente russo, em uma licitação internacional, marcando sua maior compra individual desde 2022. A compra compreendeu 50.000 toneladas métricas de trigo búlgaro e 720.000 toneladas métricas de trigo russo, de acordo com a Autoridade Geral de Abastecimento de Commodities (GASC).
Os chineses também têm sido muito ativos no mercado. As importações de trigo da China atingiram recordes históricos de janeiro a junho, uma vez que a demanda firme e as compras ativas resultaram em chegadas em massa aos portos chineses. As importações de trigo ficaram em 1,19 M tons em junho, o que representou um recorde para o mês de junho, apesar de terem caído de 1,84 M tons em maio, segundo dados da alfândega.
As importações totais da China atingiram um recorde histórico de 9,2 M tons de janeiro a junho, em comparação com 7,9 M tons no mesmo período em 2023 e 4,9 M tons em 2022. Consequentemente, o USDA ajustou seus números para as importações chinesas nas temporadas 23/24 (14 M tons, a maior desde 91/92) e 24/25 (12 M mt, a terceira maior desde 96/97).
Fonte: Refinitiv (números podem divergir da alfândega chinesa).
Atualmente, os preços do trigo estão passando por uma tendência baixista. Os preços futuros nos EUA caíram para níveis não vistos em quatro anos, e o último WASDE trouxe estoques finais significativamente mais altos para a temporada 24/25, tanto nos EUA quanto globalmente, contribuindo para um cenário de fornecimento mais confortável.
No entanto, mesmo com os recentes ajustes nas estimativas do USDA, a relação estoque/uso global de trigo em 24/25 ainda deve ser a mais apertada desde 13/14, de modo que a demanda provavelmente fornecerá algum suporte quando os preços se aproximarem das mínimas observadas nos últimos dias. Espera-se que os principais destinos importem acima de sua média de 10 anos nesta temporada, e as licitações da semana passada mostraram que há demanda.
