Aug 8 / Carolina França

Impacto das tarifas americanas no mercado de cacau

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  • O contrato de cacau para dezembro 2025 encerrou a semana a USD 7.978/t em NY (+5,6%) e GBP 5.415/t em Londres (+0,6%), revertendo a queda inicial e mantendo a volatilidade, influenciado por temores de oferta e incertezas de demanda.

  • A nova rodada de tarifas dos EUA, em vigor desde 7 de agosto, atinge mais de 50% das importações do país, com potencial de pressionar custos, inflação e alterar fluxos comerciais.

  • As importações de cacau pelos EUA seguem concentradas em amêndoas (39%), manteiga (17%), pó (19%) e pasta (25%), com destaque para a Costa do Marfim como principal fornecedora de grãos (tarifa de 15%) e avanço do Equador; no caso dos subprodutos, tarifas elevadas para Malásia, Indonésia e Índia tendem a encarecer insumos e pressionar a indústria americana.

  • As importações líquidas de junho voltaram à média, influenciadas pelo maior volume de subprodutos, possivelmente refletindo demanda mais resiliente e antecipação de compras antes do impacto das tarifas.

  • O mercado segue atento aos efeitos das tarifas na economia e inflação dos EUA, bem como aos dados finais da safra 2024/25 e ao início da 2025/26, que podem manter a volatilidade elevada.

Impacto das tarifas americanas no mercado de cacau

Os preços do cacau referentes ao contrato de dezembro 2025 encerraram a sexta-feira, 8 de agosto, a USD 7.978/t em Nova York e GBP 5.415/t em Londres, acumulando altas semanais de 5,6% e 0,6%, respectivamente. Esse cenário difere do registrado no início da semana, quando os preços da commodity recuaram nos futuros, garantindo ao cacau mais um período marcado por volatilidade, em parte devido a temores quanto à oferta e incertezas sobre a demanda.

Nesse sentido, a análise desta semana foca no impacto nas negociações da commodity em função de um dos fatores que vem contribuindo para as oscilações recentes: as tarifas americanas. A nova rodada de taxas, que entrou em vigor no dia 7 de agosto, inclui os principais parceiros comerciais dos EUA e que correspondem a mais de 50% de todo o volume importado. Dessa forma, a política comercial pode impactar a inflação do país, acrescentando incertezas e podendo alterar custos e fluxos do comércio internacional.


EUA: Novas Tarifas

Fonte: LSEG


Os Estados Unidos ocupam posição de destaque no mercado global de cacau, sendo um dos principais consumidores da matéria-prima e exportadores de chocolate e confeitos. Para sustentar essa dinâmica, o país depende da importação de amêndoas de cacau e seus derivados, que são fundamentais para abastecer sua indústria e atender à demanda interna. No ano de 2024, das importações líquidas totais de cacau do país, amêndoas, pasta, pó e manteiga representaram 39%, 25%, 19% e 17%, respectivamente.

Avaliando as importações por origem e por tipo de produto, para as amêndoas, o principal parceiro dos EUA é a Costa do Marfim, taxada em 15%. Apesar da nova tarifa ser inferior a de 21% anunciada em abril, autoridades do país levantaram a possibilidade de buscar novos mercados que permitam melhor comércio e competitividade para o cacau marfinense, o que pode levar a mudanças nos fluxos comerciais da commodity. Sob esse contexto, observa-se um aumento da participação do Equador nas importações de amêndoas dos EUA nos últimos anos.

EUA: importação de amêndoas de cacau por origem (%)

Fonte: Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC)


Quanto aos subprodutos, países importantes como Malásia (19%), Indonésia (19% após negociação) e Índia (25%) possuem taxas que tendem a encarecer a matéria-prima usada pela indústria americana. Estima-se que o aumento do custo de produção em função das tarifas dá vantagem competitiva a fabricantes do Canadá e México em comparação com os EUA, devido aos acordos comerciais entre os três países, aumentando as preocupações sobre o setor no país.

EUA: importação de manteiga de cacau por origem (%)

Fonte: Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC)

EUA: importação de pó de cacau por origem (%)

Fonte: Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC)

EUA: importação de pasta de cacau por origem (%)

Fonte: Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC)


Em abril, após a primeira rodada de tarifas, já se discutia a possibilidade de mudanças no processamento e no fluxo comercial de cacau como alternativa para reduzir custos frente às tarifas impostas pelos EUA. Entre as estratégias avaliadas, estava o desvio de amêndoas para países próximos aos Estados Unidos com tarifas mais baixas e capacidade de moagem, como Canadá, México, Brasil e Gana, permitindo suprir a demanda norte-americana a partir de outras origens. No entanto, o cenário atual mudou: o Brasil, que hoje importa grãos por possuir capacidade de processamento maior do que a produção interna, passou a enfrentar uma tarifa de 50% para exportações aos EUA, o que inviabiliza essa alternativa e representa um impacto relevante, especialmente porque o país é também fornecedor de manteiga de cacau para o mercado norte-americano.

Apesar dos temores, as importações líquidas totais de cacau (amêndoas, manteiga, pó e pasta) dos EUA retornaram a patamares médios no mês de junho, principalmente pelo maior volume de subprodutos importados. Além da sazonalidade, esse movimento pode sinalizar uma demanda relativamente mais resiliente, considerando que o resultado de moagem do segundo trimestre de 2025 para região, segundo relatório da NCA, apresentou queda menos acentuada do que na Ásia e Europa. Além disso, o aumento nas compras pode refletir também uma antecipação às tarifas que passaram a vigorar nesta semana, com importadores buscando garantir estoques antes do impacto direto nos custos.

EUA: Importações líquidas de cacau (‘000 tons)

Fonte: Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC)


O mercado segue atento aos desdobramentos das novas tarifas, não apenas pelo potencial de alterar fluxos comerciais e preços no setor de cacau, mas também pelos seus reflexos sobre a inflação e a economia norte-americana. A forma como esses fatores irão se combinar deve influenciar o comportamento dos agentes e contribuir para a manutenção da volatilidade que vem caracterizando o mercado em 2025. Paralelamente, ainda há expectativa quanto aos resultados de produção da safra 2024/25 e ao início da temporada 2025/26, o que adiciona mais uma camada de incerteza ao cenário de preços.

Em resumo

Em 8 de agosto de 2025, o contrato de cacau de dezembro fechou em alta em Nova York e Londres, revertendo as quedas do início da semana e mantendo a volatilidade no mercado, impulsionada por preocupações com oferta e incertezas sobre a demanda. A atenção recai sobre a nova rodada de tarifas dos EUA, em vigor desde 7 de agosto, que atinge mais de 50% do volume importado e pode alterar custos e fluxos comerciais. Os EUA, grandes consumidores de cacau e exportadores de produtos de confeitaria, importam principalmente da Costa do Marfim (15% de tarifa), mas também de países como Equador, Malásia, Indonésia e Índia, estes últimos com tarifas mais altas que encarecem insumos e favorecem fabricantes do Canadá e México.

Apesar dos temores, as importações líquidas dos EUA voltaram a níveis médios em junho, sustentadas pelo aumento do volume importado de subprodutos, possivelmente refletindo tanto uma demanda um pouco mais resiliente quanto antecipações aos impacto das tarifas. O mercado segue atento aos efeitos dessa política comercial na inflação e economia americana, bem como aos resultados finais da safra 2024/25 e início da 2025/26, que mantêm o cenário de incerteza e volatilidade.

Report Semanal — Cacau

Escrito por Carolina França
carolina.franca@hedgepointglobal.com

Revisado por Thais Italiani
thais.italiani@hedgepointglobal.com

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