Tarifas Americanas: Novos Desafios no Mercado Cafeeiro

Do lado dos produtores, é interessante destacar que, para a maior parte dos produtores de café arábica, como a maior parte dos países da América Central e África Oriental, como Brasil, Colômbia, Peru, foram impostas tarifas bases de 10%. Enquanto que isso ainda deve refletir em preços mais elevados para o café de forma geral, uma taxação nivelada para os países pode significar pouca mudança na competitividade entre essas origens por conta desse fator especifico.

Por outro lado, para o Robusta são esperadas taxações elevadas, tanto para Indonésia como para o Vietnã. No caso desse último, foi apontada uma taxação de 46% sobre as mercadorias do país, enquanto no Brasil, o Conilon poderá ser taxado em apenas 10%. Esse fator é importante quando olhamos a participação dessas origens nas importações americanas de café Robusta/Conilon: apesar do crescimento da participação do Brasil nas importações em 24/25 – reflexo da menor oferta no Vietnã – de forma geral os mercados asiáticos contribuem para a maior parte do café Robusta importado para os EUA.

Com os cafés asiáticos possivelmente mais caros com as taxações, a demanda americana por cafés de origines como o Brasil e Uganda – que possuem taxações mais baixas – pode aumentar. Por outro lado, uma possível queda na demanda americana pelos cafés asiáticos poderia refletir em maior disponibilidade desses grãos para outros destinos.

Além das origens produtoras, países da União Europeia, que também são exportadores de café processado, estão na mira das taxações. Como muitos desses países também exportam café para os EUA, poderemos ver uma mudança na dinâmica nos próximos meses. Aqui novamente é interessante notar a diferença entre os níveis das taxas da EU com, por exemplo, o Reino Unido, que também é um exportador de cafés processados.

Mas, além do fluxo comercial, o impacto maior das taxações americanas possivelmente será justamente na demanda do país. Até o momento, os dados de importações americanas mostravam uma recuperação na importação de café na safra 24/25 frente 23/24, porém o cenário atual traz incertezas quanto à continuidade do movimento. Como comentado em análises anteriores, o forte avanço dos preços do café desde o fim de 2024 já estava levantado apreensões quanto à uma possível destruição da demanda à níveis globais.

Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) para o café vem se elevando desde o fim de 2024 para todas as classes de café, chegando ao seu maior nível em fevereiro deste ano. Com as novas taxações impostas pelo governo americano a tendência é de novo aumentos dos preços. Não apenas o café, mas os preços de outros produtos também podem se elevar nos próximos meses, aumentando o custo de vida dos americanos, com crescente temores de uma recessão na economia. As tarifas também inflamam as chances de uma guerra comercial, com alguns países já sinalizando retaliação às taxações americanas, como a China, que anunciou tarifas extras de 34% sobre os produtos americanos nesta sexta, 04. Nesse cenário, aumentam também as chances de uma queda do consumo de café no maior país consumidor do produto do mundo.

O mercado foi abalado nesta semana pelo anuncio das novas taxações impostas a diversos países pelo governo americano. A perspectiva de taxas sobre importantes exportadores de café no maior país consumidor do grão do mundo trouxe ainda mais incertezas sobre o mercado, podendo trazer impactos tanto sobre a demanda quanto a comercialização do produto.

As taxações devem atingir não apenas países produtores mas também exportadores do produto processado, podendo trazer mudanças nos fluxos comerciais da mercadoria dos EUA. (e do mundo), especialmente dado as diferentes taxas aplicadas em diversos países. Enquanto alguns países podem ser taxados em 10%, outros podem presenciar taxas elevadas para seus produtos, como no caso dos mercado asiáticos.

Porém, além dos impactos nos fluxos comerciais, as taxações aumentam os temores em torno da demanda do maior país consumidor de café do globo. O CPI americano para café já tem avançado com maior força desde o fim de 2024, devido ao aumento geral dos preços do café, mas deve seguir em alta nos próximos meses, dado o aumento esperado dos custos do produto com as novas taxas. Além disso, crescem as tensões ao redor do globo de uma guerra comercial, com alguns países já retaliando as ações do presidente americano, que dão um alerta para uma possível recessão da economia americana. Diante de todo este cenário, também aumentam as chances de queda na demanda por café pelos EUA em 2025.