Jan 27 / Laleska Moda

Preços seguem em alta e arbitragem entre arábica e robusta aumenta

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  • Os preços do café seguem voláteis, diante das mudanças no cenário macroeconômico e das perspectivas de oferta restrita ao redor do globo, especialmente no Brasil.O contrato Março/25 do arábica inclusive voltou próximo aos patamares de 350 c/lb nesta segunda.

  • Além da preocupação com a safra 25/26 no Brasil, a comercialização da safra 24/25 está elevada, acima da média das últimas safras, o que deve restringir a oferta dos grãos brasileiros, ao menos até a entrada da nova temporada.

  • Esse cenário também tem levado à um aumento dos diferenciais brasileiros de café, em meio à baixos estoques globais do grão e também a oferta limitada em outras origens.

  • Apesar do aperto de oferta tanto do arábica quanto do robusta, os preços do primeiro têm registrado avanços mais intensos, levando ao aumento da arbitragem entre os futuros das variedades. Esse cenário, por outro lado, pode contribuir para um aumento da demanda do robusta frete ao arábica nos próximos meses.

Preços seguem em alta e arbitragem entre arábica e robusta aumenta

O mercado do café registrou altas nos últimos dias, refletindo fatores relacionados à oferta, mas também a mudança no cenário macroeconômico mundial. O início do segundo mandato de Trump nesta semana esteve em destaque, com uma correção no índice do dólar ao longo dos últimos dias, devido á uma postura mais branda da admiração americana em relação às tarifas comerciais dos EUA quando comparadas à expectativa do mercado. Isso também levou à uma reação de moedas emergentes, como no caso do real brasileiro, que também foi influenciado pela entrada de capital estrangeiro e pelos dados de inflação superiores ao esperado pelo mercado (4.36%) no Brasil. Esse movimento também levou à um suporte para as commodities.

Além disso, as apreensões quanto à oferta em meio à uma demanda aquecida seguem tornando o mercado de café mais volátil, sendo que o contrato Março/25 do arábica chegou a atingir os patamares de 355,5 c/lb durante o pregão desta segunda-feira, 27, novo recorde, apesar de ter finalizado o pregão em 349,2 c/lb.

Vale lembrar que, enquanto o Vietnã deve contribuir para a oferta de robusta nesse primeiro semestre do ano, produtores têm vendido seus grãos de forma mais lenta nessa safra, especialmente com a aproximação do ano Lunar Chinês. Do lado do arábica, a colheita na Colômbia e América Central deve seguir pelas próximas semanas, mas o volume também têm sido mais limitado. Além disso, no Brasil, produtores mostram pouco interesse em novas vendas.

Brasil: Comercialização do Café Arábica (% do total)
Brasil: Comercialização do Café Conilon (% do total)

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Dados publicados nesta semana referente à comercialização da safra 24/25 no Brasil reforçam essa tendência e apontam que os estoques de passagem são mais limitados. Para o arábica cerca de 82% da safra 24/25 havia sido vendida até dezembro, enquanto que para o robusta, esse valor era de 91% no mês passado. Já para a safra 25/26, a consultoria Safras & Mercado apontam que as vendas seguem abaixo da média, em torno de 12% no Brasil, enquanto em 2024 esse porcentagem era de 19% e, na média de 5 anos, 21%.

É interessante notar que os preços dos grãos brasileiros tiveram aumento no mercado internacional desde o fim do ano passado, devido maior à demanda e a oferta limitada. Os diferenciais do arábica e do conilon estão em altos níveis, acima da média de 5 anos. Para o conilon, a elevação foi expressiva nessa última semana, justamente quando foi relatado uma redução na oferta por produtores vietnamitas.

Por outro lado, mesmo com essa recente demanda mais aquecida pelo conilon, o spread entre essa variedade e o arábica no Brasil está em maiores níveis desde o fim de 2024. Isso é reflexo da elevação mais intensa dos preços do arábica frente ao robusta, especialmente após dezembro/24, devido às preocupações com a oferta.

Brasil: Diferencial Arábica Fine Cup 17/18 (c/lb)
Brasil: Diferencial Conilon 13 Acima (USD/Mt)

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Os spreads (ou diferenças) entre as cotações do café arábica bebida dura tipo 6 e conilon 13 acima e do arábica 600 defeitos contra o conilon 7/8 inclusive estiveram acima da média dos últimos 5 anos, indicando o alargamento entre os preços das duas variedades. Mesmo com o recente suporte para o conilon, dado à possibilidade de uma safra 25/26 de arábica reduzida, o recuo nos estoques certificados da ICE da variedade e uma esperada recuperação do conilon no Brasil neste próximo ciclo, a tendência é que o spread siga em níveis maiores do que vistos em 2024.

Um spread mais largo entre o arábica e o conilon, especialmente quando olhamos para qualidades menores como o 600 def e o 7/8, pode significar um aumento no uso do café conilon no blend doméstico de consumo. Anteriormente, com a variedade sendo negociado até mesmo acima do arábica, os torrefadores brasileiros reduziram o seu uso em prol do arábica. Essa tendência também era esperada em outras partes do globo.

Porém com a recente mudança nos fundamentos, esperamos que o torrefador brasileiro volte a demandar mais conilon neste ano. Globalmente, a arbitragem mais ampla entre o arábica e o robusta pode também favorecer a expansão do robusta nos mercados asiáticos, dado o uso da variedade nos cafés solúveis e da preferência do consumidor dessa região – com exceção da China, que favorece o consumo de arábica.


Brasil: Spread Arábica Bebida dura tipo 6 x Conilon 13 acima (BRL/saca)
Brasil: Spread Arábica 600 def x Conilon 7/8 (BRL/saca)

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Fonte: Safras & Mercado, Hedgepoint

Em resumo

Enquanto tivemos algumas mudanças no cenário macroeconômico nos últimos dias, os fundamentos seguem apontando para uma oferta mais restrita de café nos próximos meses, o que tem mantido uma alta volatilidade e preços recordes no setor. Apesar do esperado aumento de oferta no curto prazo com a colheita em diversas origens, os baixos estoques ao redor do globo e alta comercialização da safra brasileira de 24/25 tem garantido suporte para as cotações, especialmente no Brasil, onde os diferencias do arábica e do robusta tem se elevado. A comercialização acima da média das últimas safra no país pode restringir o volume de grãos brasileiros no mercado nos próximos meses.

Por outro lado, é interessante notar que a arbitragem entre o arábica e o robusta está novamente se alargando, com os spreads entre as variedades no Brasil também voltando acima da média, especialmente para cafés de qualidade inferior. Com essa mudança, espera-se que o café robusta/conilon volte a ser mais demandado em 2025, especialmente visto a perspectiva de uma oferta restrita de arábica no Brasil em 25/26.

Relatório Semanal — Café

Escrito por Laleska Moda

laleska.moda@hedgepointglobal.com

Revisado por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

www.hedgepointglobal.com

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