Apr 10 / Guilhermo Marques

Os impactos econômicos sobre as tarifas impostas pelos EUA e o papel do Brasil neste arcabouço.

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Os impactos econômicos sobre as tarifas impostas pelos EUA e o papel do Brasil neste arcabouço.  

"O mercado ainda se encontra cauteloso, pois os movimentos de realizações e ganhos repentinos não estão relacionados com os aspectos fundamentalistas, mas sim com as expectativas sobre os efeitos de uma possível recessão, sem mencionar a indecisão quanto a quais serão os valores finais e os prazos das tarifas impostas por Donal Trump e realmente a partir de quando elas começam a valer."  

  • Na última semana, o mercado financeiro global tem observado impactos significativos sobre as recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos.
  • O Brasil observou um fluxo cambial negativo de US$ 1,317 bilhão, tendo a saída de dólares composta por mais de US$ 1 bilhão em operações financeiras em conjunto a um déficit de US$ 221 milhões na balança comercial.
  • O contrato de minério de ferro mais ativo na China (Dalian Iron Ore) desvalorizou abruptamente na última semana com receios sobre recessão no mercado chines frente as taxas impostas pelos Estados Unidos.
  • Os mercados globais acumulam desvalorizações e perdas na casa de US$ 10 trilhões desde o chamado “Dia D” imposto pelo presidente Donald Trump, até o dia 9 de abril.
  • No último dia 9 de abril por volta das 14h15 (horário de Brasília, ou 13h15 em Nova York), as bolsas inverteram as perdas após o anúncio de Donald Trump de aplicar a tarifa mínima de 10% para os países que não retaliaram os Estados Unidos, após 90 dias, com exceção da China, que teve a tarifa elevada de 104% para 125%  

Introdução

No dia 2 de abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas tarifas comerciais sobre o mercado global como parte de uma política de "reajuste" em resposta às tarifas impostas por outros países. Essas novas medidas foram denominadas tarifas recíprocas.

Em uma semana em que se passou um turbilhão de fatos e notícias, o real experimentou uma resistência inicial frente às demais moedas, com uma valorização de 0.7% em relação ao dólar, atingindo seu menor nível desde outubro de 2024. Isto se dava ao fato de que analistas entendiam que as tarifas de 10% sobre o Brasil foram mais brandas, e o país poderia ser beneficiado frente as demais economias, como China e Europa, que sofreram taxas mais abruptas.

Porém, este movimento não prevaleceu por muito tempo, uma vez que retaliações da Europa e principalmente China começaram a ser anunciadas, fazendo com que temores maiores de uma guerra comercial mais enérgica tomassem corpo. O Real fechou a semana do dia 4 de abril com uma desvalorização de mais de 4%.

Entretanto, no último dia 9 de abril, após intensos reflexos sobre os discursos e decisões entre Estados Unidos e China, com tarifas elevadas para 125% sobre produtos Chineses, Donald Trump anunciou que teria uma flexibilização nas tarifas sobre os países que não retaliaram os Estados Unidos por 90 dias, o que fez imediatamente o mercado retornar 4%, em 5,84. Além disto, recomendou abertamente em sua rede social oficial que seria um “ótimo momento para comprar”, indicando que os valores das ações já estariam alcançando suas mínimas após a recente realização e “sell-out”, o que impulsionou uma recuperação no mercado, suavizando os temores de recessão. Apesar da colocação do atual presidente dos EUA, o cenário internacional permanece incerto e com alta volatilidade, exigindo uma dose extra de cautela. 
Figura 1: Inversão dos mercados americanos e brasileiros no 9 de abril de 2025.

Fonte: LSEG, Hedgepoint 

Câmbio 

Após experimentar na semana anterior após o anúncio das primeiras tarifas uma resistência inicial frente às demais moedas, com uma valorização de 0.7% em relação ao dólar, o Real experimentou alta volatilidade no último dia 9 de abril. Após ser negociado na casa dos R$ 6,10 pela manhã, o dólar acompanhou o otimismo repentino do mercado de ações e fechou a sessão do mesmo dia quotado a R$ 5,84. Um recuo de 4.26% durante o mesmo pregão, deixando claro que a volatilidade será algo presente nas próximas semanas. 
Figura 2:  Desempenho entre Dólar X Real e Dólar versus moedas de países desenvolvidos (DXY)

Fonte: LSEG, Hedgepoint

Taxas de Juros 

As taxas de juros DIs continuam em um movimento de alta, acompanhando a desvalorização recente do real perante o dólar e a continua elevação dos Treasuries com prazos mais longos. Esta sequência de fatos se deu após os Estados Unidos confirmarem uma nova imposição tarifária sobre a China.

Na última quarta-feira o presidente Donald Trump havia anunciado uma taxa de 34% sobre os produtos chineses, gerando uma tensão mundial e consequente ações reciprocas da China com adicionais 34% sobre produtos norte-americanos.

Ainda em meio estes anúncios, Trump anunciou ao mundo que adicionaria 50% sobre as importações chinesas caso não recuassem de sua última decisão sobre as tarifas adicionais sobre produtos norte-americanos. Como já esperado, a China não recuou sobre suas decisões e os EUA cravaram uma taxa de 104% sobre produtos chineses, dois dias após o anúncio original. Ainda na mesma onda de negociações e retaliações, as tarifas sobre a China foram elevadas para 125%. 

Fundamentos contribuem para um resultado positivo para o Brasil no médio prazo, porém ainda em observação ao desenrolar das negociações dos Estados Unidos com o mundo. 

O mercado ainda se encontra cauteloso, pois os movimentos de realizações e ganhos repentinos não estão relacionados com os aspectos fundamentalistas, mas sim com as expectativas sobre os efeitos de uma possível recessão, sem mencionar a indecisão quanto a quais serão os valores finais e os prazos das tarifas impostas por Donal Trump e realmente a partir de quando elas começam a valer.

A grande questão, embora as tarifas adicionais representem um desafio global, é que o Brasil. pode se beneficiar por estar em uma posição estratégica frente as demais economias, uma vez que a demanda por produtos de origem alternativas a Estados Unidos e China, principalmente commodities - onde o país e exportador líder – pode aumentar consideravelmente.

O papel do Brasil sobre este reordenamento das cadeias de suprimentos globais pode ser positivo no médio prazo, atraindo fluxos de investimentos ao país e uma possível valorização do Real no segundo semestre, porém ainda existem muitos pontos a serem observados com o desenrolar das negociações dos Estados Unidos com o mundo.

As respostas da Uniao Europeia frente as tarifas de Trump podem ser anunciadas já na próxima semana, segundo porta-voz. A Comissão Europeia vem trabalhando em uma estruturação de resposta sobre as tarifas, principalmente sobe automóveis e demais reciprocas dos Estados Unidos. Dessa forma, conforme discutido anteriormente, ainda existem incertezas que devem adicionar volatilidade ao mercado internacional, tornando o gerenciamento de risco essencial.
 

Em Resumo

As tarifas impostas pelos EUA estão remodelando as relações comerciais globais, provocando retaliações e aumentando as tensões econômicas.

Embora o Brasil enfrente desafios específicos, a economia global como um todo está sentindo os efeitos dessas políticas protecionistas, com riscos de desaceleração econômica e aumento da inflação em várias regiões.

O Brasil pode se beneficiar quando todos os pontos forem esclarecidos, como uma rota alternativa para fornecimento de commodities e produtos a China e Europa.
Espera-se que os reais efeitos das tarifas sejam sentidos dentro de dois meses, uma vez, uma vez que as empresas ainda trabalham com estoques existentes para suprir a demanda imediata. Uma vez sendo necessário o abastecimento de insumos, estes deverão ser precificados já contando os preços ajustados pelas novas taxas impostas pelo governo americano. Isto pode adicionar uma pressão inflacionaria nos EUA bem como pressão popular caso o poder de compra do americano seja impactado. 

Relatório Semanal — Macro

Escrito por Guilhermo Marques
guilhermo.marques@hedgepointglobal.com

Revisado por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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