May 27 / Guilhermo Marques

Os títulos públicos dos EUA, alterações no IOF e os impactos no câmbio.

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Os títulos públicos dos EUA, alterações no IOF e os impactos no câmbio.

Durante a semana passada, observamos uma leve valorização do real frente ao dólar, finalizando em R$ 5.663. Ainda que nos primeiros dias da semana a tendência tenha sido de estabilidade, desvalorizando um pouco entre a segunda feira (19) e a terça feira (20), de R$ 5.6512 para 5.7145, o pregão da sexta feira (23) apresentou maior volatilidade. No acumulado de maio, o real registra uma valorização de 0,5% enquanto, no ano de 2025, acumula 8,72%.

Desempenho Semanal do BRL/USD

Fonte: Reuters, Hedgepoint


Mercado Doméstico Brasileiro

Como principais fatores domésticos desta última semana, descartamos o aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre operações financeiras) comunicado pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde da terça-feira (22), tendo já como data de início no próximo dia (23). A medida, juntamente com a contenção de BRL 31.3 bilhões no Orçamento, tem como objetivo a diminuição do déficit público, buscando cumprir a meta de “déficit zero” em 2025. Com o aumento do IOF o governo busca maior arrecadação de impostos, elevando sua captação de recursos.


Alterações Anunciadas ao IOF

Fonte: InfoMoney e outros, elaborados pela Hedgepoint

O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é um instrumento utilizado pelo governo não apenas para fins arrecadatórios, mas também como ferramenta de regulação da economia, influenciando o fluxo de capitais e o comportamento cambial.

O aumento desse imposto pode gerar impactos relevantes sobre a moeda brasileira, especialmente quando incide sobre operações relacionadas a investimentos internacionais, empréstimos externos, importações, exportações ou remessas financeiras. Os efeitos variam conforme o tipo de operação tributada, o contexto macroeconômico vigente e, principalmente, as expectativas dos agentes de mercado.

Entre os possíveis reflexos no câmbio, podem ocorrer a redução da entrada de capital estrangeiro, desaceleração das remessas internacionais, alteração das expectativas de mercado, efeitos indiretos sobre inflação e taxa de juros.
Será importante acompanhar atentamente como o mercado reagirá nos próximos dias. A elevação das alíquotas para remessas ao exterior, compras de moeda estrangeira e uso de cartões internacionais tende a encarecer o custo dessas transações para pessoas físicas e jurídicas. Esse movimento pode desestimular o ingresso de capital estrangeiro no país e, em contrapartida, incentivar a antecipação de saídas de recursos, principalmente em um cenário de incerteza fiscal e elevada sensibilidade aos fluxos financeiros. Caso essa dinâmica se intensifique, há potencial para pressão adicional sobre a taxa de câmbio, com risco desvalorização do real frente ao dólar.

Fatores Globais e Commodities

No cenário global, as movimentações de mercado se deram devido ao rebaixamento feito pela agência Moody’s sobre a nota de crédito soberano dos EUA para AA+ com perspectiva estável, vindo de AAA com viés negativo. Importante destacar que este era o único rating das principais agências de rating (Fitch, Moody`s e S&P) remanescente nos níveis AAA, onde S&P já havia realizado tal revisão para AA+ estável em agosto de 2011 e a Fitch, seguindo a mesma direção em 2023.

O principal direcionamento que tal ação sinaliza para o mercado se dá pela trajetória insustentável de longo prazo da dívida americana e as sequentes ações sem sucesso pelo governo em endereçar questões sobre o déficit e custo elevado da dívida.

Evolução dos Títulos Americanos: 10Yr e 30Yr

Fonte: Reuters, Hedgepoint

Títulos públicos americanos com rendimentos (yield) elevados no longo prazo

Considerando os recentes acontecimentos, é necessário que tenhamos clareza de quais variáveis devemos monitorar para melhor entender o mercado e suas tendências. Dada a mudança de rating norte-americana, os Tresuaries são os principais indicadores a serem monitorados.
Os Treasuries são títulos de dívida emitidos pelo governo dos Estados Unidos para financiar suas operações, dentre os quais se destacam:

  • T-bills (curto prazo, até 1 ano)
  • T-notes (médio prazo, 2 a 10 anos)
  • T-bonds (longo prazo, 20 a 30 anos
  • TIPS (protegidos contra inflação)
Quando os investidores exigem um rendimento (yield) mais alto para comprar títulos de longo prazo, como os de 30 anos:

  • Isso indica perda de confiança na saúde fiscal ou monetária do país emissor.
  • Pode refletir expectativas de inflação mais alta no futuro ou maior prêmio de risco.
  • Preços dos títulos caem à medida que os yields sobem (a relação é inversa).

O fato de os yields dos títulos de 30 anos estarem em 5,1% acende um sinal de alerta no mercado. Por estarem próximos dos maiores patamares dos últimos anos, refletem a crescente preocupação dos investidores com a sustentabilidade da dívida americana, o que os leva a exigir um prêmio maior para manter esses papéis em seus portfólios. Na última quinta-feira (22) o Presidente Donald Trump obteve vitória no congresso americano ao passar o projeto de lei apelidado de “One Big Beautiful Bill” (OBBB). Em uma faixa apertada (215 votos a 214), a medida oferece cortes de impostos para pessoas físicas, aumentando o teto de dedução de US$ 10mil para US$ 40mil, medidas sobre energia, meio ambiente, imigração e segurança, e como principal a elevação do teto da dívida dos EUA em US$ 4 trilhões para os próximos anos. Todos estes fatores somados, colocam preocupações sobre o total da dívida americana e sua solidez em um futuro vindouro.

Assim, a crescente preocupação com a economia americana, aliada a decisões como a elevação do teto da dívida do país, pode ser interpretada como uma restrição a valorização de sua moeda. Essa conjuntura torna complexo o entendimento de uma tendência clara para o real brasileiro frente ao dólar, já que ambos os governos têm tomado decisões que poderiam prejudicar a força de suas moedas.

Em Resumo

A combinação entre o rebaixamento do rating soberano dos Estados Unidos, a alta nos yields dos Treasuries de longo prazo e a aprovação de novas medidas fiscais expansionistas pelo Congresso americano eleva significativamente o nível de incerteza nos mercados globais. Esse cenário pressiona a curva de juros americana e aumenta a aversão ao risco, com efeitos diretos sobre os fluxos de capitais para economias emergentes como o Brasil.

Quanto ao Brasil, a elevação do IOF a partir de 23 de maio de 2025, embora tenha como objetivo reforçar o compromisso do governo brasileiro com o equilíbrio fiscal, pode ter um efeito adverso no curto prazo ao reduzir a atratividade do país para investidores estrangeiros e encarecer operações internacionais para empresas e indivíduos. A resposta do mercado a essas medidas será crucial para entender os próximos movimentos do câmbio.

Portanto, apesar de o real ter apresentado leve valorização nas últimas semanas, o equilíbrio permanece frágil. O comportamento da taxa de câmbio nos próximos dias dependerá da leitura do mercado sobre a sustentabilidade das medidas fiscais adotadas tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, além da sensibilidade aos fluxos de capital em um ambiente global de maior cautela. A volatilidade cambial deve continuar elevada, exigindo atenção redobrada por parte de agentes econômicos expostos ao risco de variação do dólar.


Relatório Semanal — Macro

Escrito por Guilhermo Marques
guilhermo.marques@hedgepointglobal.com

Revisado por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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