Oct 2 / Lívea Coda

Relatório Semanal Açúcar e Etanol - 2023 10 02

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"Devemos permanecer cautelosos quanto à magnitude da tendência de alta: outubro expirou e foi entregue um volume recorde. Além disso, o clima na Índia não parece tão ruim quanto se diz."

Clima da Índia, entrega e macro: que semana!

  • Desde uma quantidade razoável entregue até mudanças macro e melhores chuvas na Índia, o mercado de açúcar enfrentou volatilidade durante a semana passada, com o contrato de outubro corrigido para 26,02 apenas para se recuperar e expirar em 26,27 USc/lb.

  • Neste relatório pretendemos discutir o clima da Índia e porque mantivemos a nossa produção inalterada em 31,4Mt. Sim, houve poucas chuvas e durante Agosto o país enfrentou a pior precipitação em 100 anos! Mas olhando para o Índice Padronizado de Precipitação (SPI), é possível observar que os principais estados produtores, como Uttar Pradesh, Tamil Nadu e Gujarat, sofreram pouco durante todo o período de desenvolvimento da cana-de-açúcar (jun-set).

  • Embora não tenhamos alterado a nossa produção, alteramos nossa visão de exportação, oferecendo mais suporte ao contrato H24.

  • Dado que o mercado de açúcar brancos é mais severamente afetado por uma menor participação no Hemisfério Norte, o prêmio do branco deve seguir sustentado.
Nenhuma mudança nos fundamentos foi observada na semana passada: a safra do Hemisfério Norte ainda deve ficar abaixo da média, os excelentes resultados do Brasil não são surpresa e a entrega de açúcar bruto foi a mais alta possível: 2.87Mt. O volume entregue na bolsa ficou em linha com as expectativas do mercado, conforme sinalizado pelo prêmio físico no porto de Santos e pelos contratos em aberto, sendo 242% superior à média de 7 anos, 840kt. Contudo, foi interessante observar que o açúcar se manteve resistente a correções.

As razões para isso foram principalmente especulativas e macro-relacionadas. Embora o adoçante tenha enfrentado algumas correções no início da semana, com a força do dólar americano dado o baixo desempenho de índices econômicos do país e a expectativa de um posicionamento mais agressivo do Fed, assim que o complexo energético se recuperou, o açúcar também encontrou novo fôlego. Com o vencimento em outubro, março, que é impulsionado principalmente pelas condições de safra do Hemisfério Norte, não parece ter muitos motivos para reduzir tão cedo.

No entanto, devemos permanecer cautelosos quanto à extensão da tendência de alta. Neste relatório pretendemos discutir o clima da Índia e porque mantivemos a nossa produção inalterada em 31,4Mt.

Figura 1: Índice Padronizado de Precipitação (SPI) para a Índia

Fonte:Fonte: India Meteorological Department

Nenhuma mudança nos fundamentos foi observada na semana passada: a safra do Hemisfério Norte ainda deve ficar abaixo da média, os excelentes resultados do Brasil não são surpresa e a entrega de açúcar bruto foi a mais alta possível: 2.87Mt. O volume entregue na bolsa ficou em linha com as expectativas do mercado, conforme sinalizado pelo prêmio físico no porto de Santos e pelos contratos em aberto, sendo 242% superior à média de 7 anos, 840kt. Contudo, foi interessante observar que o açúcar se manteve resistente a correções.

As razões para isso foram principalmente especulativas e macro-relacionadas. Embora o adoçante tenha enfrentado algumas correções no início da semana, com a força do dólar americano dado o baixo desempenho de índices econômicos do país e a expectativa de um posicionamento mais agressivo do Fed, assim que o complexo energético se recuperou, o açúcar também encontrou novo fôlego. Com o vencimento em outubro, março, que é impulsionado principalmente pelas condições de safra do Hemisfério Norte, não parece ter muitos motivos para reduzir tão cedo.

No entanto, devemos permanecer cautelosos quanto à extensão da tendência de alta. Neste relatório pretendemos discutir o clima da Índia e porque mantivemos a nossa produção inalterada em 31,4Mt.

Figura 2: Previsão de anomalia de precipitação (mm por dia)

Fonte: NOAA, hEDGEpoint

Há pouco tempo, em julho, o mercado apostava num clima normal e numa produção superior a 33Mt para o país. Naquela época, argumentamos que era muito cedo para afirmar normalidade, especialmente com o El Niño à espreita. Estimamos 31,4Mt e não alteramos nossos números desde então. Estávamos pessimistas, pois algum efeito do padrão climático poderia induzir um mau desenvolvimento da cana e perda de sacarose e, portanto, estávamos quase 2Mt abaixo da média do mercado.

O El Niño foi confirmado, a monção atrasou. Houve poucas chuvas em julho e agosto enfrentou a pior precipitação em 100 anos! Você pode estar se perguntando por que não mudamos nossa visão. Pois bem, olhando para o Índice Padronizado de Precipitação (SPI) – um índice importante e bem aceito para monitoramento de secas usado pelo Ministério da Agricultura da Índia para definir se uma região foi afetada pela seca ou não – é possível notar que mesmo com um agosto severo, os principais estados produtores, como Uttar Pradesh, Tamil Nadu e Gujarat, sofreram pouco durante todo o período (junho-setembro). É claro que muitos distritos de Maharashtra e Karnataka foram gravemente afetados, mas, olhando para o quadro mais amplo, esta produção inferior a 30Mt ainda é difícil de compreender: a Índia já surpreendeu o mercado positivamente no passado, mais de uma vez!

Figura 3: Preços Domésticos (Índia) vs Internacionais (USD/t)

Fonte: Bloomberg, hEDGEpoint

Considerando 31,4Mt, a Índia poderia ter algum excedente de açúcar para exportar, mas entendemos – como já foi discutido durante os nossos relatórios semanais – que a decisão é altamente política. Com o programa de etanol, as preocupações com a segurança alimentar em meio ao ano eleitoral e o aumento dos preços dos combustíveis, a ideia de não haver exportações é de fato muito provável. A Índia estaria, neste caso, optando por reabastecer e se aproximar do limite habitual de estoque em três meses de consumo.

Portanto, embora não tenhamos alterado a nossa produção, para que os nossos fluxos comerciais refletissem o que tem sido precificado, assumimos como caso base a ausência de exportações indianas. Parte da redução observada na estimativa da Índia (-1,3Mt exportações) foi compensada pela maior disponibilidade do Brasil, mas esta última está longe de ser suficiente para evitar um déficit durante o primeiro e segundo trimestre de 2024, o que significa uma tendência de alta para o contrato de março 2024.

Figura 4: Balanço de açúcar da Índia (Mt dezembro-novembro)

Fonte: ISMA, AISTA, hEDGEpoint

Observe que outras mudanças foram feitas em nosso balanço global de açúcar – revisamos a disponibilidade da Tailândia e do México para baixo em 23/24, do Brasil e da Ucrânia para cima, e acatamos as alterações mais recentes do USDA sobre as condições de colheita dos EUA, entre outros – pontos para discussão em relatórios futuros.

É claro que, ao contrário do que acontece no mercado de açúcar bruto, o Brasil oferece pouco conforto ao mercado de branco, uma tendência que contribui para a manutenção de um alto prêmio do branco e que deve perdurar ao longo dos últimos meses do ano e, possivelmente, pelo início do próximo.
Figura 5: Fluxo comercial total ('000t tq)
Figura 6: Fluxo comercial de açúcar branco ('000t tq)

Fonte: hEDGEpoint, Green Pool

 Fonte: hEDGEpoint, Green Pool

Em resumo

Desde uma quantidade razoável entregue até mudanças macro e melhores chuvas de curto prazo na Índia, o mercado de açúcar enfrentou volatilidade durante a semana passada, com o contrato de outubro corrigido para 26,02 apenas para se recuperar e expirar em 26,27 USc/lb.

Neste relatório discutimos o clima da Índia e porque mantivemos a nossa produção inalterada em 31,4Mt. Sim, houve poucas chuvas em julho e agosto enfrentou a pior precipitação em 100 anos! Mas olhando para o Índice Padronizado de Precipitação (SPI) da Índia, é possível observar que os principais estados produtores, como Uttar Pradesh, Tamil Nadu e Gujarat, sofreram pouco durante todo o período de desenvolvimento da cana-de-açúcar (junho-setembro).

Embora não tenhamos alterado a nossa produção, para que os nossos fluxos comerciais refletissem o que tem sido precificado, assumimos como caso base a ausência de exportações indianas, representando um déficit de mais de 1Mt no 1T-24, o que significa uma tendência altista para o contrato de março de 2024.

Como o mercado de açúcar branco é mais severamente afetado por uma menor participação no Hemisfério Norte, o prêmio do branco deve seguir sustentado.

Relatório Semanal - Açúcar

Escrito por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

Revisado por Natália Gandolphi
natalia.gandolphi@hedgepointglobal.com

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