Oct 16 / Lívea Coda

Relatório Semanal Açúcar e Etanol - 2023 10 16

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"As atuais tensões geopolíticas, especialmente no que diz respeito aos países produtores de petróleo, intensificaram a instabilidade do mercado e fizeram os preços do petróleo subir. Ao mesmo tempo, os eventos recentes contribuíram para um cenário de maior percepção de risco, o que pode levar os investidores a buscarem ativos mais estáveis, como o dólar e o ouro. Espera-se que esta volatilidade persista. Dada a tendência altista de curto e médio prazo no mercado de açúcar, pelo menos até que a safra 24/25 do Brasil entre em ação, os preços do adoçante devem permanecer sustentados."

Alta volatilidade em meio a preocupações geopolíticas

  • Os preços do açúcar enfrentaram maior volatilidade devido a forças opostas tanto nos fundamentos como na geopolítica.

  • Em termos de fundamentos, embora esperemos uma escassez de disponibilidade durante o período da entressafra brasileira, as estimativas de produção de açúcar na Europa Ocidental e Oriental melhoraram.

  • As atuais tensões geopolíticas, especialmente no que diz respeito aos países produtores de petróleo, intensificaram a instabilidade do mercado e fizeram os preços do petróleo subir. Ao mesmo tempo, os eventos recentes contribuíram para um cenário de maior percepção de risco, o que pode levar os investidores a buscarem ativos mais estáveis, como o dólar e o ouro.

  • Espera-se que esta volatilidade persista. Dada a tendência altista de curto e médio prazo no mercado de açúcar, pelo menos até que a safra 24/25 do Brasil entre em ação, os preços do adoçante devem permanecer sustentados.
A semana passada viu uma variedade de fatores impactando os preços do açúcar. Da geopolítica ao clima, o adoçante superou o nível de resistência de 27 Usc/lb apenas para corrigir dois dias depois, após o relatório da Unica mostrar excelentes resultados na moagem do Centro-Sul. Neste relatório, pretendemos discutir as possibilidades de tendência de preços nos próximos dias.

Do lado dos fundamentos, a situação permanece inalterada: o Brasil segue com uma colheita excelente, a Índia não deverá exportar e países como a Tailândia e o México reforçam tendências de alta. Porém, tanto a Europa Ocidental como a Oriental contribuem para uma perspectiva mais moderada. À medida que o Brasil se aproxima de sua entressafra e da sua estação mais chuvosa (mais dias perdidos), espera-se que o ritmo de moagem diminua, acrescentando suporte aos preços, conforme discutido em relatórios anteriores. No entanto, é importante notar que a recente volatilidade do mercado não pode ser atribuída apenas a estes fatores.

Figura 1: Variação das estimativas de produção para 23/24 (out-set) em Mt tq

Fonte: hEDGEpoint, Green Pool

Figura 2: Estimativas de dias perdidos para o Centro Sul Brasileiro (nº dias)

Fonte: hEDGEpoint, Green Pool

A escalada das tensões geopolíticas foi a principal razão por trás do aumento dos preços na semana passada. Contudo, note que o adoçante é afetado por forças opostas: ao mesmo tempo que a tendência ascendente do mercado energético ganha força, a percepção de risco de mercado também aumenta.

É comum que em tempos de tensões geopolíticas, os investidores, principalmente os especuladores, busquem ativos mais estáveis, como o próprio dólar e o ouro, como forma de proteção financeira. Este movimento pode desencadear perdas significativas em mercados considerados mais voláteis, possibilitando uma correção no posicionamento dos fundos. Neste caso específico, pela importância da região para o complexo energético e para o transporte marítimo, o açúcar ainda pode encontrar suporte.

A crescente procura de petróleo para armazenamento e possivelmente o mesmo movimento nos mercados de alimentos básicos são as principais forças que combatem a percepção de risco. A disparada no preço das commodities energéticas acaba desencadeando uma tendência de alta ao afetar toda a cadeia produtiva do açúcar.

Figura 3: Percepção de risco vs petróleo altista: índice de variação de preços (02 de outubro = 100)

Fonte: Refinitiv, hEDGEpoint

Apesar da possibilidade de repercutir diretamente o preço do etanol no mercado interno brasileiro, e sim, este deve responder aos desdobramentos do conflito, o mercado internacional de açúcar continua apertado em termos de disponibilidade. Isso significa que a resposta natural do etanol não deve induzir qualquer redirecionamento de matéria-prima para o biocombustível no país, tanto no curto quanto no médio prazo. Assim, essa tendência daria ainda mais suporte para os preços do açúcar, possivelmente combinando forças com o início da estação chuvosa.

No entanto, existe um limite para a reação do biocombustível. Devemos lembrar que a alta disponibilidade de matérias-primas utilizadas na produção de etanol no Brasil (cana e milho) tem impedido qualquer redução significativa nos seus estoques, apesar do aumento da demanda por combustíveis. Além disso, o compromisso do governo brasileiro com a redução dos preços nas bombas pode evitar que a volatilidade internacional atinja abruptamente o mercado interno do país. Portanto, o etanol não deve ser responsável por um grande impacto nos preços do adoçante, o que significa que o sentimento de risco luta diretamente contra o efeito de repercussão (spillover) do petróleo e os fundamentos de curto e médio prazo do açúcar.

Figura 4: Estoques de etanol no Brasil com crescimento de 5,6% no Ciclo Otto (mil m³)

Fonte: UNICA, SECEX, MAPA, ANP, hEDGEpoint

É claro que a escalada da tensão geopolítica pode abalar todo este cenário. Atualmente, existe uma incerteza crescente sobre até que ponto países produtores de petróleo como o Irã poderão envolver-se e potencialmente impactar o fornecimento global de petróleo à medida que a guerra se intensifica. Esta visão fez os preços do petróleo subirem em quase 4% na última sexta-feira, induzindo ganhos em todo o quadro de commodities, com o açúcar a registar um aumento de quase 2%. Por outro lado, o Índice Dólar permanece bastante forte acima de 106.

Espera-se que esta volatilidade persista. Lamentavelmente, a intensificação de tensões geopolíticas ampliou ainda mais a instabilidade do mercado. Dada a tendência já de alta de curto e médio prazo no mercado de açúcar, pelo menos até que a safra 24/25 do Brasil entre em ação, os preços do adoçante devem seguir sustentados. Contudo, se a percepção de risco aumentar, especialmente na ausência de sinais positivos de recuperação da economia dos EUA, o mercado poderá testemunhar vendas especulativas (selloffs).

Figura 5: Preços do açúcar permanecem acima da média histórica (Usc/lb)

Fonte: Refinitiv, hEDGEpoint

Em resumo

Os preços do açúcar têm sido altamente voláteis devido a fatores conflituantes nos fundamentos e na geopolítica. Embora haja escassez na sua disponibilidade durante o período da entressafra brasileira, as estimativas de produção de açúcar na Europa Ocidental e Oriental melhoraram.

As tensões geopolíticas, especialmente nos países produtores de petróleo, aumentaram a instabilidade do mercado e deram novo fôlego aos preços do petróleo. Contrabalanceando este último, o aumento da percepção de risco poderá levar os investidores a optar por ativos mais estáveis ​​como o dólar e o ouro.

Portanto, com o mercado contabilizando todos esses fatores, espera-se que a volatilidade continue. Com a tendência de alta no mercado de açúcar, os preços deverão permanecer sustentados pelo menos até a safra 24/25 do Brasil.

Relatório Semanal — Açúcar

Escrito por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

Revisado por Thaís Italiani
thais.italiani@hedgepointglobal.com

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