Jun 3 / Laleska Moda

Relatório Semanal Açúcar e Etanol - 2024 06 03

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"O atual estados dos ENSOS indica que a transição para o La Niña ocorrerá um pouco mais tarde que o previsto, com o fenômeno se tornando mais ativo durante o terceiro trimestre. No Brasil, o fenômeno tende a beneficiar a colheita de cana, devido ao baixo nível de chuvas e maior temperatura. Porém, também aumenta o risco de queimadas e geadas."


La Niña está chegando: como o mercado de açúcar pode ser impactado?

  • O atual estados dos ENSOS indica que a transição para o La Niña ocorrerá um pouco mais tarde que o previsto, com o fenômeno se tornando mais ativo durante o terceiro trimestre.

  • No Brasil, o fenômeno tende a beneficiar a colheita de cana, devido ao baixo nível de chuvas e maior temperatura. Porém, também aumenta o risco de queimadas e geadas. Um La Niña mais intenso a partir do 3T também pode levantar preocupações em relação ao desenvolvimento da safra 25/26.

  • Para o Hemisfério Norte, um La Niña moderado pode trazer benefícios para a produção, especialmente para a Índia.

  • Na América Central, pode-se ter maiores riscos em relação à temporada de furações.

  • Na Tailandia, o evento pode trazer chuvas acima da média e afetar a qualidade da cana.

O mercado de commodities agrícolas está estritamente ligado com os padrões climáticos, como La Niña e El Niño, devido ao impacto destes na oferta dos produtos. A depender do estado de desenvolvimento da safra em questão, esses fenômenos climáticos podem tanto beneficiar quanto prejudicar o rendimento do produto agrícola.

De fato, em nossos últimos relatórios já mencionamos alguns dos impactos que podem ser trazidos pela transição do fenômeno El Niño para o La Niña. Assim, neste relatório nosso objetivo foi aprofundar um pouco mais nos possíveis cenários e riscos para o setor sucroenergético com essa mudança climática.

Primeiramente, é importante destacar que houve uma mudança nas expectativas inicias, com a transição do El Niño para La Niña devendo ocorrer um pouco mais tarde do que o previsto, no final do 2T para o início do 3T. Com isso, o La Niña deverá ter seu maior efeito no 3T, trazendo algumas mudanças nos possíveis impactos nas lavouras de cana e beterraba açucareira.


Figura 1: Status ENSO – Índice ONI (°C)

Fonte: IRI, NOAA

Antes de discutirmos os possíveis efeitos do La Niña é importante entender as condições ideias de cultivo da cana-de-açúcar e beterraba, as matérias primas na produção de açúcar e etanol. Ambas as culturas necessitam de chuvas no período de desenvolvimento, porém, enquanto a cana é adequada para climas subtropicais, a beterraba é típica de climas temperados, tolerando menores temperaturas.

Ainda assim, condições extremas (seca, calor e frio) afetam a produtividade dessas culturas. Como exemplo em 22/23 tanto a produção do Brasil como da EU foram afetadas por secas no verão e um inverno mais rigoroso.

Portanto, entender quais as mudanças climáticas trazidas pelo La Niña e em qual período – uma vez que cada país e região tem seu calendário de safra – pode nos trazer algumas perspectivas para os próximos meses. Um evento La Niña se caracteriza pela diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental e pela consequente intensificação dos ventos alísios, que empurram ainda mais água quente para a Ásia, reduzindo significativamente a temperatura da costa oeste das Américas.

Figura 2: La Niña Anomalia de Temperatura (C°) Set-Nov

Fonte: Refinitiv

Figura 3: La Niña Anomalia de Precipitação (mm) Set-Nov

Fonte: Refinitiv

Mas então, quais seriam os efeitos de um La Niña na produção de açúcar ao redor do globo?

Brasil: no País, um evento moderado tende a trazer um inverno mais seco no Centro Sul, podendo beneficiar a colheita da safra 24/25. Entretanto, um La Niña mais intenso poderia trazer geadas e incêndios levando à rendimentos mais baixos e aceleração do ritmo de moagem. Além disso, caso o período de seca se estenda durante a primavera – uma vez que o La Niña deve ser mais intenso no Q3 – o desenvolvimento da temporada 25/26 poderia ser prejudicado, assim como em 20/21, quando o Brasil registrou moagem de apenas 523Mt.

Índia: um La Niña moderado traz a chance de um período de monções favorável. O governo Indiano inclusive apontou recentemente que a maior parte do país provavelmente receberá monções acima da média, o que deve auxiliar no desenvolvimento da safra açucareira de 24/25. No entanto, se muito intenso, pode trazer inundações.

Europa: de forma geral, os padrões climáticos tem pouco efeito e correlação com precipitações e temperaturas no bloco, sendo que tanto um La Niña ou um El Niño podem ser responsáveis ​​por um leve aumento na precipitação entre março a agosto, podendo favorecer o estágio de desenvolvimento da beterraba. Entretanto, um evento La Niña pode levar à menores volumes de precipitações durante setembro a novembro, durante o pico de colheita da beterraba, o que pode auxiliar nos trabalhos de campo.

América Central: um La Niña moderado tende a intensificar as chuvas durante a fase de desenvolvimento da cana (junho a setembro), podendo ser benéficas para a produção, caso não sejam em excesso. Neste último cenário, as precipitações podem atrasar ou atrapalhar o ritmo da safra, além de poderem reduzir o teor de sacarose. Além disso, vale destacar que o evento pode intensificar temporada de furacões na região, potencialmente trazendo danos às lavouras.

Tailândia:
o La Niña tem baixa correlação climática com o nível de precipitações e temperatura no país entre setembro a novembro, mas, caso muito intenso, poderia levar à menores níveis de chuvas. A maior correlação do evento, no enteando, ocorre entre março e maio, podendo trazer seca justamente no período de colheita na Tailandia, o que beneficiaria as atividades.


Figura 4: Calendário de Safra - Principais produtores

Fonte: NOAA

Em resumo

Eventos climáticos como o El Niño e La Niña tendem a trazer impactos (positivos ou negativos) na produção commodities agrícolas, como o açúcar. Os próximos meses serão justamente marcados pela transição – ainda que mais tarde do que prevista – do primeiro evento para o La Niña.

Os impactos desse evento na produção açucareira variam de região para região e também pela intensidade do fenômeno. Um La Niña moderado pode beneficiar a produção de açúcar trazendo um inverno mais seco no CS e uma estação de monções acima da média. Porém, se muito intenso, pode provocar inundações e reduzir a incidência de luz solar no Hemisfério Norte, intensificar temporada de furacões na América Central e ameaçar o desenvolvimento da safra 25/26 no CS.


Relatório Semanal — Açúcar

Escrito por: Laleska Moda

laleska.moda@hedgepointglobal.com


Revisado por: Lívea Coda

livea.coda@hedgepointglobal.com

www.hedgepointglobal.com

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