Dec 10 / Lívea Coda

Acordo entre UE-Mercosul: doce ou amargo?

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"Na semana passada, os participantes do mercado discutiram o acordo UE-Mercosul, formalizado em 6 de dezembro, que propõe tarifas zero para determinados produtos, mas limita as importações de produtos agrícolas sensíveis, como o açúcar. A cota de açúcar de 180kt não é uma mudança significativa, já que a UE tem importado consistentemente além dessa cota do Brasil."

Acordo entre UE-Mercosul: doce ou amargo

  • O acordo UE-Mercosul, formalizado em 6 de dezembro, propõe tarifas zero para determinados produtos, mas limita as importações de produtos agrícolas sensíveis, como o açúcar.

  • A cota para açúcar de 180kt não é uma mudança significativa, já que a UE sempre importou do Brasil além dessa cota.

  • A produção de açúcar da Índia está ganhando impulso após um início tardio, com o volume de cana e a produção de açúcar reduzidos em 34% em comparação com o ano passado.

  • O mercado prevê um corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Fed, enquanto o Banco Central do Brasil deve apertar a política monetária com um aumento de 75 pontos-base.

  • A entressafra brasileira do CS pode levar a uma escassez de disponibilidade no mercado no 1T/25, o que resultaria em uma tendência de alta se a demanda aumentar.

Durante a semana passada, uma discussão significativa entre os participantes do mercado girou em torno do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, formalizado em 6 de dezembro, embora ainda precise de mais aprovações. Esse acordo propõe tarifas zero para a importação de determinados produtos dos países do Mercosul para a UE. Embora o café e as frutas estejam incluídos no acordo, ele limita as importações de produtos agrícolas sensíveis, como carne bovina, etanol, carne suína, mel, açúcar e aves.

Para o açúcar, a proposta estabelece uma cota tarifária zero para 180.000 toneladas para o bloco, o que não representa uma mudança significativa. Quaisquer importações fora dessa cota estarão sujeitas às tarifas atuais. Para recapitular, o sistema atual segue uma estrutura tarifária preferencial, o que significa que tarifas diferentes são aplicadas dependendo da origem do açúcar. Por exemplo, se a UE importar açúcar bruto para refino de países que se enquadram na quota CXL, que incluem Austrália, Brasil, Cuba e Índia, a tarifa é de 98 euros por tonelada. Se a importação for de Países Menos Desenvolvidos (LDC), dos Bálcãs ou dos países da África, Caribe e Pacífico (ACP), não há tarifa aplicável, a menos que seja para o consumo direto de açúcar mascavo. Para qualquer importação de consumo direto, a tarifa é de 419 euros por tonelada, e se o açúcar bruto for importado fora do sistema de cotas para refino, será cobrada uma tarifa de 339 euros por tonelada.


A cota de 180kt para todo o bloco não representa uma mudança significativa em relação ao que foi estabelecido anteriormente. De fato, a UE tem importado consistentemente açúcar do Brasil além da cota em uma base anual. De acordo com os dados da SECEX, uma média de 600 kt de açúcar entra no bloco vindo do Brasil a cada ano. Desse montante, aproximadamente 390 kt vêm da região Centro Sul, e 540 kt são de açúcar bruto. Portanto, a necessidade de importação é o fator determinante: se a UE precisar de açúcar, ela o importará fora do sistema de cotas, como fez no passado. No entanto, com as perspectivas favoráveis deste ano e a maior disponibilidade da Ucrânia, a participação do mercado europeu ocupada pelo Brasil - o principal representante do Mercosul em termos de açúcar - pode ser menor. De fato, estamos nos aproximando do final de 2024 e as exportações brasileiras para a UE estão atrasadas em cerca de 40%, mas ainda estão acima da cota proposta, em 400kt. Como resultado, não esperamos que o acordo entre os dois blocos afete os preços do açúcar ou a dinâmica do mercado.

Figura 1: Exportações brasileiras de açúcar para a UE ('000t)

Fonte: Secex | *volume até novembro de 2024

Outro ponto que vale a pena discutir é o ritmo da safra da Índia. A nova temporada começou um pouco tarde devido às festividades do Diwali, às eleições estaduais e ao clima. No entanto, esses fatores estão no passado e a moagem de açúcar está ganhando impulso. De acordo com a ChiniMandi, os dados divulgados pela National Federation of Cooperative Sugar Factories Limited (NFCSF) mostraram que, em novembro, 381 usinas estavam operando, moendo um total de 33,2 milhões de toneladas de cana e produzindo 2,79 milhões de toneladas de açúcar.

Em comparação com o ano passado, quando 433 usinas estavam operando, 51 milhões de toneladas de cana foram moídas e 4,23 milhões de toneladas de açúcar foram produzidas, a variação ainda parece ser causada pelo início tardio. Tanto o volume de cana quanto a produção de açúcar foram reduzidos em 34%, em comparação com 40% nos primeiros 15 dias. Ainda precisamos monitorar o seu avanço com cuidado.

Figura 2: Ritmo da temporada 24/25 da Índia

Fonte: ChiniMandi | NFCSF

Na frente macro, o mercado está prevendo outro corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Fed na próxima reunião, em 17 e 18 de dezembro, principalmente após o relatório de empregos da semana passada. Embora os dados do IPC de novembro, divulgados na quarta-feira, possam apoiar essa tendência, a correção do dólar foi menor do que o esperado, em meio à incerteza renovada no Oriente Médio e na Síria, o que ainda contribuiu para um sentimento de baixa em relação às commodities.

No Brasil, as preocupações crescentes com a inflação levaram a expectativas de que o Banco Central do Brasil aumentará ainda mais o rigor da política monetária na próxima reunião. O relatório Focus prevê um aumento de 75 pontos-base, elevando a taxa de juros para 12%. Essa medida poderia ajudar a controlar a recente desvalorização da moeda, já que o diferencial de taxa de juros entre o Brasil e os EUA poderia atrair maiores fluxos de capital para o país. Entretanto, a política fiscal continua sendo um problema, e qualquer valorização do real ainda seria afetada pelo desequilíbrio nas contas públicas.

Figura 3: O índice do dólar ainda tem suporte, mas o açúcar nem tanto

Fonte: Refinitiv, Hedgepoint

Para o açúcar, isso significa que o ambiente macroeconômico não é muito favorável. É claro que uma valorização do real poderia levar a uma menor inclinação para a exportação. Entretanto, a extensão dessa valorização precisaria ser extremamente alta, e não parece realista esperar que ela se mova significativamente abaixo de 6 BRL/USD. Portanto, pouca mudança tende a vir da frente macroeconômica.

Ainda assim, devemos estar cientes de que entramos na entressafra brasileira do CS. É provável que isso resulte em uma escassez de disponibilidade no mercado, especialmente durante o primeiro trimestre de 2025, o que pode levar a uma tendência de alta se a demanda se materializar.

Figura 4: Apenas o café e o cacau permanecem com uma forte tendência de alta

Fonte: Refinitiv, Hedgepoint


Em resumo

Na semana passada, os participantes do mercado discutiram o acordo UE-Mercosul, formalizado em 6 de dezembro, que propõe tarifas zero para determinados produtos, mas limita as importações de produtos agrícolas sensíveis, como o açúcar. A cota de açúcar de 180kt não é uma mudança significativa, já que a UE tem importado consistentemente além dessa cota do Brasil. Com perspectivas favoráveis e maior disponibilidade da Ucrânia, a participação do Brasil no mercado europeu pode ser menor no final de 2024 e durante 2025. Além disso, a produção de açúcar da Índia está ganhando impulso após um início tardio.

No âmbito macroeconômico, o mercado prevê um corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Fed, enquanto o Banco Central do Brasil deve apertar a política monetária.

O ambiente macroeconômico não é muito favorável ao açúcar e a entressafra do brasileira pode levar a uma escassez de disponibilidade do adoçante no mercado no 1T/25, o que sugere uma tendência de alta se a demanda aumentar.


Relatório Semanal — Açúcar

Escrito por: Lívea Coda

livea.coda@hedgepointglobal.com

Revisado por: Thaís Italiani

thais.italiani@hedgepointglobal.com

www.hedgepointglobal.com

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