Jul 24 / Lívea Coda

Relatório Semanal Açúcar e Etanol - 2023 07 24

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"Embora o consumo de açúcar ainda tenha muito espaço para crescer, a tendência de crescimento de longo prazo pode enfrentar alguns fatores de desaceleração. Mais países chegando ao estágio “desenvolvido” e buscando alternativas energéticas, a adoção de impostos sobre o açúcar, ou até mesmo a desaceleração do crescimento populacional são motivos que podem retardar o avanço da demanda."

Demanda de açúcar, para onde vai?

  • Os preços do açúcar sobem devido às preocupações com as colheitas na Índia e Tailândia, impulsionados pelo sentimento econômico melhorado em meio aos temores de recessão nos EUA. Especuladores aumentam as apostas otimistas, elevando a posição líquida comprada e se recuperando das mínimas anteriores.
  • Os fundamentos continuam os mesmos: estamos passando por um aperto físico. Embora a principal razão por trás disso seja um choque de oferta, vale a pena monitorar a demanda.
  • Enquanto o crescimento populacional está positivamente correlacionado com o crescimento do consumo, sua relação com o PIB é um pouco mais complicada e depende do momento vivido pelo país.
  • Mais países chegando ao estágio “desenvolvido” e buscando alternativas energéticas, a adoção de impostos sobre o açúcar, ou até mesmo a desaceleração do crescimento populacional são motivos que podem retardar o avanço da demanda. Não esperamos que isso aconteça tão cedo, mas monitorar esses aspectos torna-se essencial para entender o balanço global do açúcar.

Os preços do açúcar continuaram em alta esta semana, sustentados por preocupações contínuas em relação ao impacto potencial do El Niño nas colheitas na Índia e na Tailândia.
O sentimento econômico também melhorou, com o risco de recessão nos Estados Unidos se tornando uma possibilidade mais incerta do que inicialmente esperado, o que também ofereceu algum suporte.
Além disso, especuladores aumentaram as apostas otimistas no açúcar bruto. A posição líquida comprada subiu para 119.144 lotes, após atingir os níveis mais baixos deste ano na semana anterior.
Em termos de fundamentos, ainda vemos algum aperto físico – conforme destacado em relatórios anteriores. A principal razão para esse cenário é um choque de oferta: clima, competição por área, custos mais altos e decisões políticas são os principais fatores. No entanto, a demanda acaba tendo um papel importante. Como o consumo de açúcar é um tanto inelástico, seu crescimento é quase inquestionável.
“Mais uma pessoa é mais uma colher de açúcar para o café – ou chá, dependendo da sua preferência” é um ditado comum no mercado. E de fato faz sentido! Nos últimos 10 anos, o consumo de açúcar foi 90% correlacionado com a população; se o prazo for estendido para 20 anos, essa relação chega a 97%.
Claro, também está altamente ligada ao crescimento do PIB. Considerando uma janela de 20 anos, a correlação entre a demanda global por açúcar e o PIB mundial também chega a 90%. Porém, em uma análise de 10 anos, esse número cai para 70%. Por quê? Bem, a demanda por açúcar tende a seguir um padrão parabólico em relação ao crescimento econômico de um país.
Figura 1: Consumo estimado de açúcar versus população
Figura 2: Consumo estimado de açúcar versus PIB a preços correntes

Fonte: hEDGEpoint, Green Pool, IMF

Fonte: hEDGEpoint, Green Pool, IMF

Claro que há exceções, mas, quando um país está em desenvolvimento, todo aumento do PIB acaba somando ao consumo de açúcar, por ser uma fonte de energia (caloria) barata. Nos Gráficos 3 e 4 consideramos o PIB (em paridade do poder de compra) e o consumo per capita, isolando as tendências de crescimento populacional e facilitando o entendimento desta tendência. Tomemos Bangladesh como exemplo, o PIB PPC do país praticamente dobrou entre 2013/14 e 2022/23, enquanto o consumo de açúcar saltou 30%.
Em paralelo, países que atingiram um certo nível de desenvolvimento, como os membros da UE, ou os EUA, têm pouco desafio para encontrar alternativas energéticas. A região da UE teve um crescimento de 50% em seu PIB PPC nos últimos 10 anos, enquanto seu consumo de açúcar per capita caiu cerca de 12%. Portanto, quanto mais desenvolvido for um país, maiores são as chances de o PIB não provocar variações ou, até mesmo, levar a uma redução de seu consumo.
Este último pode também relacionar-se com estes países serem mais adeptos à “luta contra o açúcar”, tendo alguns definido fortes impostos ao seu consumo – veja o Reino Unido como exemplo. Em 2018, o país aprovou a Taxa da Indústria de Refrigerantes, taxando os fabricantes de bebidas açucaradas – toda bebida contendo mais de 8g do adoçante por 100ml é tributada em 0,24 libras esterlinas por litro.
Os impostos sobre o açúcar são uma realidade em muitos outros países. A Tailândia, um de seus maiores produtores e exportadores, também adicionou um imposto específico sobre o teor de açúcar em 2017, tendo introduzido a terceira fase em 2023, quando as bebidas contendo 6-8g de açúcar por 100ml serão tributadas em 0,3 baht por litro. O valor é aumentado dependendo do conteúdo, por exemplo, de 8-10g, é cobrado 1 baht por litro.
Figura 3: Consumo Per Capita vs PIB em Paridade do Poder de Compra 2013/14
Figura 4: CConsumo Per Capita vs PIB em Paridade do Poder de Compra 2022/23

Fonte: IMF, hEDGEpoint

Fonte: IMF, hEDGEpoint

O crescimento da população mundial e o desenvolvimento de alguns países continuarão a impulsionar a demanda de açúcar por um tempo. No entanto, existem algumas tendências que valem a pena monitorar. Um deles é o imposto sobre o açúcar discutido anteriormente, outro é o impacto do crescimento populacional negativo.
Figura 5: Taxa de crescimento populacional (% - de 2023 até 2026 são valores estimados)

Fonte: IMF, hEDGEpoint

Figura 6: Índice de preços de alimentos da FAO e seus componentes

Fonte: FAO, hEDGEpoint

O FMI espera que alguns países europeus, como Polônia, Finlândia e Portugal, tenham uma redução em sua população nos próximos anos. A redução também é esperada para um dos maiores consumidores de açúcar, a China. Tendo caído 0,041% em 2022, a agência espera que o gigante asiático continue reduzindo sua população nos próximos 5 anos a uma taxa crescente. Claro, isso não significa que a demanda de açúcar será fortemente afetada por isso no curto prazo, mas mostra uma tendência de estabilidade para o longo prazo – crescimento mais lento do que os quase 1% vistos a cada ano!
Outra tendência que merece destaque é que, como o consumo de açúcar continua crescendo, os preços podem encontrar suporte. Os desequilíbrios de oferta são cada vez mais comuns: mudanças climáticas, desaceleração econômica e custos de investimento mais altos podem impedir que a produção acompanhe os aumentos do consumo. A elevação do preço do açúcar, por ser uma fonte energética essencial, impacta diretamente na segurança alimentar.
Como exemplo disso, as preocupações atuais com a deterioração das safras de adoçantes no Hemisfério Norte elevaram o índice de alimentos da FAO. Portanto, acompanhar os fundamentos e entender para onde o mercado está indo não é apenas uma questão de estratégia comercial, mas, também, de segurança alimentar.

Em resumo

Embora o consumo de açúcar ainda tenha muito espaço para crescer, a tendência de crescimento de longo prazo pode enfrentar alguns fatores de desaceleração. Mais países chegando ao estágio “desenvolvido” e buscando alternativas energéticas, a adoção de impostos sobre o açúcar, ou até mesmo a desaceleração do crescimento populacional são motivos que podem retardar o avanço da demanda.
Não esperamos que a desaceleração aconteça tão cedo, mas monitorar esses aspectos torna-se essencial para entender o quadro de equilíbrio global do açúcar. Enquanto a demanda continua avançando rapidamente em muitos destinos, os choques de oferta tornam-se mais relevantes e problemáticos, trazendo volatilidade para o jogo.

Relatório Semanal — Açúcar e Etanol

Escrito por Lívea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

Revisado por Natália Gandolphi
natalia.gandolphi@hedgepointglobal.com

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