Oct 16 / Pedro Schicchi

Relatório Semanal Grãos, Algodão e Pecuária - 2023 10 16

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"Um conflito geralmente desencadeia aversão ao risco de curto prazo, resultando na fuga de capital de ativos voláteis para o dólar e títulos do Tesouro dos EUA. Isso pode impactar temporariamente os futuros de commodities.
A importância da região no mercado de petróleo e sua proximidade com o Canal de Suez podem elevar os preços do petróleo e os prêmios de risco no frete marítimo.
Embora Israel desempenhe um papel limitado na importação de commodities agrícolas, o Oriente Médio de forma ampla, um grande importador de vários produtos agrícolas, possui peso significativo no mercado global.
O impacto do conflito no mercado de grãos depende de sua escala e das respostas dos países vizinhos. Se restrito às áreas atuais, os efeitos nos grãos podem ser limitados. No entanto, a situação muda se o conflito se ampliar na região."

O que o Conflito Israel-Palestina Pode Significar para o Mercado de Grãos?

Introdução

Ao analisar os impactos da escalada do conflito, é necessário olhar de forma imparcial para a situação. Portanto, antes de começar, gostaríamos de expressar nossos sentimentos diante das perdas terríveis e danos às vidas humanas, e da tristeza com a qual vemos nosso mundo entrar em mais uma guerra em menos de dois anos.

Antes de começar a análise, é necessário considerar o contexto. As formas pelas quais a escalada do conflito pode afetar o mercado de grãos são muitas e podem variar dependendo dos acontecimentos das próximas semanas. Para separá-las em alguns segmentos, temos: impactos no mercado financeiro em geral, os potenciais impactos nos preços do petróleo e fretes e, finalmente, os fundamentos de grãos e fluxo de comércial.

Mercados Financeiros

Começando com os mercados em geral, a escalada de um conflito sempre leva a alguma aversão ao risco em todo o mundo e, portanto, a uma fuga de capital de ativos arriscados para ativos mais seguros, principalmente dólar e os títulos do Tesouro Americano. Em especial agora, uma vez que as taxas de juros nos EUA já eram atraentes antes dos acontecimentos da semana passada.
A fuga de capital é em geral baixista para os futuros de commodities, uma vez que os investidores vendem suas posições em ativos de risco. No entanto, ela também tende a ser um fator de curto prazo, já que os fundamentos prevalecem no longo prazo.
Um dólar mais forte também tende a ser é baixista para os preços de commodities, uma vez que torna as exportações dos EUA mais caras, e muitas das principais bolsas de commodities estão baseadas no país. Isso é especialmente verdadeiro no caso da soja, que é um mercado mais orientado para exportação nos EUA, competindo com outro país orientado para exportação, o Brasil.

Mercados Financeiros

A região está repleta de importantes atores no mercado de petróleo que têm relações tensas com Israel. Ao mesmo tempo, está próxima de um dos principais pontos por onde produtos fluem pelo mundo, o Canal de Suez. Por fim, este será o segundo conflito em andamento na mesma região do mundo, o que pode aumentar o prêmio de risco incorporado nos preços dos fretes na região.

O número de possibilidades de como a situação pode se desenrolar é grande demais para contar, e todas são especulativas. Sem entrar muito nesses outros mercados - e em geopolítica -, vemos principalmente suporte para essas duas variáveis (preços de petróleo e fretes). O primeiro pode ser altista para os preços das commodities agrícolas, enquanto o segundo pode pressionar os preços nas origens. Deve ser dito, no entanto, que as rotas das Américas para a Ásia não devem ver muitas mudanças, a menos que o conflito escale para níveis muito piores.

A questão principal é que tudo dependerá muito de como os países vizinhos responderão ao conflito e seus desdobramentos.
A correlação (geralmente) inversa entre commodities e dólar

Fonte: hEDGEpoint, Refinitiv

Preços Recentes de Petróleo WTI (USD/bbl) e Índice de Fretes do Báltico (USD/NU)

Fonte: hEDGEpoint, Refinitiv

Fundamentos

Olhando para as commodities cobertas pelo USDA, Israel figura apenas entre os 10 principais importadores de farelo de canola, óleo de canola e farelo de girassol. Ainda assim, com não mais de 3% das importações mundiais em cada commodity. Um papel pequeno, embora não inesperado, dado a área e população do país. No entanto, olhar apenas por esse ponto de vista é ignorar o quadro geral.


Em primeiro lugar, o Oriente Médio, como bloco de países - por mais variável que essa definição possa ser - é um grande importador de produtos agrícolas, especialmente grãos e carnes. O grupo representa 14% das importações mundiais de milho, 17% de trigo, 7% de carne bovina e 16% de frango. Destes, Egito, Irã, Iraque, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos detêm a maior participação.


Nesse sentido, vemos duas possibilidades. Em primeiro lugar, quando o risco é alto, os países tendem a estocar bens essenciais, sendo os alimentos um alvo comum - o Egito, em particular, pode desempenhar papel chave. Seus leilões de compra de grãos já movimentam o mercado e, adicionalmente, o país é o único, além de Israel, que compartilha uma fronteira com a Faixa de Gaza. Portanto, se necessário, o Egito provavelmente será o canal por meio do qual a ajuda (alimentos, medicamentos, etc.) poderá entrar na área. O aumento da demanda no curto prazo pode levar a suporte nos preços.

O segundo fator fundamental a ser observado é como os exportadores de produtos agrícolas navegarão nesse ambiente geopolítico. Os EUA já têm uma clara aliança com Israel. Outros, no entanto, podem enfrentar um desafio diplomático difícil, em particular o Brasil. Quase todos os países mencionados figuram entre os 10 maiores compradores de milho, frango e carne bovina brasileira. Um caso emblemático é o Irã, que importa milho quase exclusivamente do Brasil há muitos anos.

Finalmente, Israel é um importante fornecedor de fertilizantes fosfatados para o mundo e possui algumas instalações de produção relevantes. Os riscos, neste caso, estão relacionados a danos duradouros à capacidade de produção.

A alta participação nas importações mundiais (% do total)

Fonte: hEDGEpoint, USDA

Relevância do Oriente Médio nas Exportações Brasileiras (% do total)

Fonte: hEDGEpoint, MDIC

Conclusões

No final, tudo dependerá de quanto o conflito se intensificará e, especialmente, de como os países vizinhos responderão a ele. Se permanecer restrito às áreas atuais, não é provável que tenha um grande impacto direto no mercado de grãos. Embora o impacto no mercado financeiro e nos fertilizantes possa ter consequências indiretas.

Se o conflito tomar maiores proporções na região, os riscos serão muito maiores. Existem vários compradores importantes de grãos e carnes no Oriente Médio, bem como produtores de petróleo. Os fluxos comerciais definitivamente verão alguns ajustes, seja por questões diplomáticas ou por impactos diretos do conflito.

Report Semanal — Grãos e Oleaginosas

Escrito por Pedro Schicchi
pedro.schicchi@hedgepointglobal.com

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