May 2 / Alef Dias

Relatório Semanal Grãos, Algodão e Pecuária - 2024 05 02

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Cigarrinha adiciona riscos à safra de milho argentina

  • Após um ciclo marcado por expectativas de recuperação da produção de milho da Argentina, o mês de abril trouxe preocupações relevantes com relação à produção do país por conta de uma praga muito conhecida dos produtores brasileiros – a Cigarrinha.
  • No decorrer de abril, a Bolsa de Cereais de Rosário revisou para baixo suas estimativas de produção de milho na Argentina, reduzindo-as em 6,5M mt. Já a Bolsa de Grãos de Buenos Aires (Bolsa de Cereales) realizou dois cortes de estimativas neste mês, que totalizaram uma redução de 4,5M mt.
  • Apesar dos cortes relevantes, ainda há espaço para deterioração adicional das estimativas. Alguns players locais já falam em perdas de cerca de 10M mt frente às estimativas iniciais das bolsas, o que poderia levar a produção total para níveis abaixo de 45M mt.
  • Em resumo, a América do Sul deve seguir trazendo suporte para o milho Chicago, dado que tanto a safra argentina quanto a brasileira de Inverno seguem em desenvolvimento e precisam ser monitoradas.

Introdução

Após um ciclo marcado por expectativas de recuperação da produção de milho da Argentina, o mês de abril trouxe preocupações relevantes com relação à produção argentina por conta de uma praga muito conhecida dos produtores brasileiros – a Cigarrinha. Neste relatório iremos abordar qual pode ser o impacto total sobre a safra e os desdobramentos para o mercado de milho global.

Redução de até 10M mt

No decorrer de abril, a Bolsa de Cereais de Rosário revisou para baixo suas estimativas de produção de milho na Argentina, reduzindo-as em 6,5M mt. Essa revisão se deve principalmente aos danos provocados pelas doenças transmitidas pela cigarrinha, também conhecida como chicharrita na região. Já a Bolsa de Grãos de Buenos Aires (Bolsa de Cereales) realizou dois cortes de estimativas neste mês, que totalizaram uma redução de 4,5M mt.


Fig. 1: Milho Argentina - Área, rendimento, produção (M ha, ton/ha, M ton)

Fonte: USDA, Bolsa de Cereales

Apesar dos cortes relevantes, ainda há espaço para deterioração adicional das estimativas. A colheita está em apenas 19,8% da área, e o último relatório de progresso de safra da Bolsa de Cereales trouxe uma queda adicional do percentual de condições boas e excelentes de safra para baixo de 60%.

Alguns players locais já falam em perdas de cerca de 10M mt frente às estimativas iniciais das bolsas locais, o que poderia levar a produção total para níveis abaixo de 45M mt.



Fig. 2: Milho Argentina - Condições normais/excelentes (%)

Fonte: Bolsa de Cereales

Fig. 3: Milho Argentina - Progresso da safra (%)

Fonte: Bolsa de Cereales


Mas por que o impacto foi tão severo?

Na safra atual, houve um aumento na incidência de cigarrinhas em algumas regiões do Brasil, especialmente no Sul do país. Esse fenômeno contribui para explicar a situação de infestação observada na Argentina e no Paraguai.

O clima também contribuiu para o aumento da praga. A cigarrinha é um inseto cuja proliferação está intimamente ligada às condições climáticas. Devido às temperaturas não tão baixas no inverno e à elevada umidade relativa do ar, a população desse inseto tende a aumentar, visto que esses fatores favorecem sua dinâmica populacional.

Além do aumento no número de insetos no país, outro fator que contribuiu muito para este problema foi que a cigarrinha apareceu em regiões onde não era comum, pegando os produtores locais de surpresa.


Fig. 4: Temperatura Observada últimos 60 dias (diferença do normal, ºF)

Fonte: WorldAgWeather (produção do milho mostrada internamente)

Conclusão

Com a incerteza em torno do total de milho a ser colhido, pode-se esperar uma desaceleração das vendas dos produtores argentinos, então o ritmo – que ainda está próximo das mínimas dos últimos cinco anos – está ameaçado. Além do ritmo devagar de vendas, o percentual fixado também está abaixo dos níveis vistos nas safras anteriores, um claro sinal de um cenário de maior incerteza.

E a demanda pelo milho argentino também deve contribuir para esse cenário de menor participação do país no comércio global, dado que os preços locais já foram fortemente impactados pela “praga”, com os basis na Argentina alcançado as máximas dos últimos cinco anos. E a expectativa de cortes adicionais de produção deve suportá-los pelos próximos meses.

O lado macroeconômico pode alterar um pouco esse cenário, mas o “spread” entre a taxa paralela e oficial de câmbio não se moveu muito nas últimas semanas, e hoje ele é bem menor do que no final do ano, então o impulso de uma nova desvalorização tende a ter menos impacto.

Os reflexos deste problema também podem se estender para a próxima safra, que começará a ser semeada na Argentina entre os meses de agosto e setembro deste ano. Os produtores argentinos podem optar por uma redução de área plantada, dado que não existe solução tecnológica eficaz para combater a cigarrinha.

Em resumo, a América do Sul deve seguir trazendo suporte para o milho Chicago, dado que tanto a safra Argentina quanto a Brasileira de Inverno estão em desenolvimento e precisam ser monitorados.

Fig. 5: Milho Argentina – Venda dos Produtores (%)

Fonte: MAGyP

Fig. 6: Basis de Milho – Upriver, Argentina (USDc/bu)

Fonte: hEDGEpoint Global Markets, CME, ESALQ

Report Semanal — Grãos e Oleaginosas

Escrito por Alef Dias
alef.dias@hedgepointglobal.com

Revisado por Thais Italiani
thais.italiani@hedgepointglobal.com

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