Aug 28 / Autor

Relatório Semanal Macroeconomia - 2023 08 07

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"Especialistas vêm alertando há algum tempo sobre os riscos do patamar atual da dívida pública, que poderia reduzir a capacidade do governo de absorver outro impacto decorrente de uma crise financeira"

Com fiscal no Foco, Fitch rebaixa nota de crédito dos EUA

  • A Fitch rebaixou a classificação dos Estados Unidos. Esta é a segunda vez das três principais agências de classificação de crédito a diminuírem a nota de crédito do país.
  • Os mercados reagiram com um movimento vendedor robusto, levando os principais índices a caírem mais de 2%, enquanto os rendimentos dos juros aumentaram no país.
  • A preocupação atual gira em torno do nível da dívida pública americana, impulsionada por grandes déficits fiscais e altos gastos do governo dos EUA.
  • Embora os dados relativos ao mercado de trabalho permaneçam robustos, com a taxa de desemprego caindo para 3,5% em julho, um eventual melhoramento nos dados de inflação também aumentaria as chances de um "pouso suave" para a economia americana, diminuindo as perspectivas de uma recessão no curto prazo.

Introdução

Em uma decisão histórica, a Fitch rebaixou a nota de classificação dos EUA. A notícia reacende o debate sobre a situação fiscal do país, em que a relação dívida/PIB ultrapassa os 122%, preocupando os investidores.

Com a perda do rating, o mercado experimentou alguma volatilidade devido à redução do apetite ao risco, mas se recuperou ao longo da semana devido à expectativa de melhora na inflação no país, afastando a possibilidade de novos aumentos na taxa de juros ainda este ano.

Dados sólidos do mercado de trabalho nos EUA fornecem mais indícios de um "pouso suave" no final do ciclo monetário restritivo. Os salários estão aumentando mais rapidamente do que a inflação, o que está aumentando o poder de compra das famílias. A melhoria da economia combinada com a inflação mais baixa traz otimismo: os EUA podem evitar uma recessão.
Figura 1: S&P & NASDAQ Índices

Fonte: Refinitiv

Figura 2: Rendimentos Tesouro Americano de 2 e 10 anos

Fonte: Refinitiv

Persistentes deficits comprometem a razão dívida PIB dos EUA

Em um movimento histórico e controverso, a agência de avaliação de crédito Fitch rebaixou a nota dos Estados Unidos de AAA para AA+. Em sua análise, a entidade citou o aumento do déficit fiscal, a expansão da dívida pública e as disputas em torno do teto de endividamento do país. A dívida soberana dos EUA há muito é considerada uma das mais seguras do mundo, mas a redução na classificação sugere que essa reputação está se enfraquecendo.

As classificações de crédito são de grande importância e impactam os mercados de juros e o apetite por risco. Por exemplo, alguns fundos de investimento, que são obrigados a alocar uma parte significativa ou até mesmo todo o seu capital em títulos com classificação máxima, agora terão de procurar outros ativos para realocação. Além disso, após o rebaixamento, as taxas de juros nos EUA subiram, o que, em teoria, deveria aumentar a aversão ao risco, resultando em um sentimento baixista no mercado de ações.
Figura 3: Déficit do orçamento do governo dos EUA em anos fiscais (trilhões de dólares americanos) 

Fonte: Congressional Budget Office

Contudo, os efeitos até então parecem ser limitados, pois a maior preocupação externalizada pela Fitch referiu-se à deterioração fiscal do país, amplamente conhecida do público e precificada no mercado. Apesar de ter melhorado quando comparada com 2020, quando o governo precisou despender altos gastos para combater a pandemia, em termos absolutos a dívida pública dos EUA totalizam mais de 32 trilhões de dólares – a maior do mundo em termos absolutos. O crescimento econômico, advindo da abertura da economia a partir de 2021, e a alta inflação ajudaram a melhorar a perspectiva da dívida americana, mas segue em nível muito alto em proporção do PIB.
Especialistas já alertam algum tempo sobre os riscos do atual patamar da dívida pública, que pode diminuir a capacidade do governo em absorver outro impacto advindo de uma crise financeira. O problema central reside nos altos déficit do país, atribuídos ao aumento dos gastos do governo e queda significativa nas receitas fiscais. Para o ano de 2023 o Congressional Budget Office (CBO) projeta um déficit de US$ 1,56 trilhões de dólares.
Figura 4:  Dívida do Governo: % do PIB

Fonte: FMI

Mais dados de inflação à frente

Enquanto isso, mais dados sobre o comportamento dos preços nos Estados Unidos serão divulgados no dia 10 de agosto, por meio do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). O mercado aguardará com considerável apreensão os resultados referentes a julho, uma vez que esse indicador tem um impacto significativo nas decisões dos membros do Fed. Caso o núcleo da inflação mostre sinais de melhoria, as expectativas de que as autoridades monetárias dos EUA não precisem elevar as taxas de juros em setembro aumentam. A previsão é de que o índice tenha aumentado 0,2% no mês passado.

Entretanto, se a inflação vier em um patamar mais elevado do que o esperado, as chances de uma postura mais "hawkish" (favorável a políticas monetárias mais restritivas) no próximo encontro do FOMC aumentam. Isso é especialmente válido após os sólidos dados do mercado de trabalho dos EUA. Conforme o último relatório do Bureau of Labor Statistics, a taxa de desemprego ficou em 3,5% e os ganhos médios por hora aumentaram 4,4% em comparação com o ano anterior, ultrapassando consideravelmente a meta de inflação de 2%. O desempenho positivo do mercado de trabalho pode ser um fator inflacionário, o que mantém o mercado cauteloso em relação à situação econômica atual.
Figura 5: Taxa de Desemprego dos EUA (%)

Fonte: Bureau of Labor Statistics

Em resumo

Dois meses após a solução do impasse do teto da dívida americana, uma das maiores agências de classificação de risco rebaixou o rating de investimento dos EUA. Apesar dos efeitos terem sido limitados, o mercado deverá observar com mais atenção a situação fiscal do país que registra sucessivos déficits públicos e aumento substancial da sua dívida.

A decisão foi capaz de reduzir o apetite ao risco momentaneamente, onde ambos S&P 500 e Nasdaq Composite registraram perdas de 2,27% e 2,85%, respectivamente, em meio ao aumento de juros. Contudo, o foco do mercado segue sendo a direção da inflação americana, com perspectivas otimistas do fim do atual ciclo monetário restritivo do país. Apesar do número de empregos acrescido à economia ser um pouco menor em comparação ao mês anterior, os ganhos salarias seguem resilientes e o desemprego recuou, o que reflete um mercado de trabalho mais aquecido do que se esperava no começo do ano. Com a sequência positiva de dados laborais nos EUA, crescem as expectativas entre analistas de um possível “pouso suave” da economia.

Relatório Semanal — Macro

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Livea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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