Aug 28 / Alef Dias

Relatório Semanal Macroeconomia - 2023 08 28

🠔 Voltar para página principal do blog
"O país responde por cerca de 40% do comércio global de arroz, sendo o principal exportador mundial."

Índia pode “exportar” inflação de alimentos

  • Nos últimos meses, a Índia tem lidado com inúmeras dificuldades relacionadas ao clima, tendo impactado impactado severamente diversos mercados agrícolas. A consequência mais pronunciada desses desafios é o aumento significativo na inflação de alimentos, que saltou de 4,7% no mês anterior para 10,6%.
  • Este poderia ser um problema localizado, mas quando se trata da 5ª maior economia do mundo, com um papel relevante em diversos mercados de commodities agrícolas, há uma grande chance desse problema ser “exportado” para outras economias.
  • Essa “exportação” da inflação pode se dar principalmente pelas medidas protecionistas para reduzir/proibir as exportações de commodities agrícolas (como no arroz e açúcar) bem como por iniciativas para elevar a oferta interna através de importações (como no trigo), que devem trazer pressões altistas para essas commodities.
  • Com uma elevação da inflação de alimentos globais, os bancos centrais mundo afora podem ter de manter suas taxas de juros altas por mais tempo do que se espera atualmente.

Introdução

A Índia tem enfrentado uma miríade de desafios climáticos nos últimos meses, os quais têm perturbado os mercados agrícolas, dada a posição do país como importante produtor e exportador. O maior sintoma desses desafios é a inflação de alimentos, que subiu para 10,6% em relação aos 4,7% do mês anterior, liderada especialmente por um aumento de 214% nos preços dos vegetais de um mês para o outro, mas com consequências para muitos outros produtos - incluindo o açúcar, arroz e trigo.

Consequentemente, a inflação geral também acelerou. O IPC da Índia subiu para 7,4% em relação ao ano anterior, contra 4,9% em junho, sendo o segundo mês consecutivo de ganhos - ultrapassando a faixa-alvo de 2% a 6% do Banco Central da Índia em julho pela primeira vez em cinco meses, e por uma margem considerável.

Dada a relevância da Índia para a economia global (5ª maior economia do mundo) e seu papel importante em diversos mercados agrícolas, este relatório visa abordar os principais impactos da inflação de alimentos indiana para a economia global.
Figura 1: Índice de Preços ao Consumidor (IPC) Geral e de Alimentos - Índia (% a/a)

Fonte: Refinitiv

Figura 2: Taxa de Juros Básica – Índia (% a/a)

Fonte: Refinitiv

Ações protecionistas encarecem alimentos para outros países

O efeito primário dessa aceleração dos preços de alimentos deve ser a manutenção de uma política monetária mais restritiva por mais tempo por parte do Banco Central da Índia (RBI). As taxas de juros indianas estão nos patamares mais elevados dos últimos 4 anos.

Contudo, esse não deve ser o principal impacto da inflação de alimentos na Índia para as economias e mercados globais. O governo indiano também tem adotado diversas medidas protecionistas nos mercados de commodities agrícolas que podem levar a uma “exportação” dessa inflação para outras economias.

O arroz foi um dos primeiros produtos no qual o governo indiano interviu. Em 20 de julho, a Índia proibiu as exportações de arroz branco não-basmati em uma tentativa de acalmar os preços internos em alta. O país responde por cerca de 40% do comércio global de arroz, sendo o principal exportador mundial.

O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, avalia que, com a proibição, os preços globais do cereal podem subir até 15% este ano.
Figura 3: Exportações Mensais Arroz - Índia (‘000 mt)

Fonte: Refinitiv

O açúcar também dever ser outra commodity impactada. De acordo com três fontes do governo, a Índia está prestes a proibir as usinas de açúcar de exportarem na próxima temporada a partir de outubro.
Isso marcará a primeira interrupção nas remessas em sete anos e se deve à diminuição dos rendimentos da cana-de-açúcar devido à insuficiência de chuvas até o momento. A Índia é a 2ª maior produtora e 3ª maior exportadora global de açúcar, ficando atrás somente de Brasil e Tailândia.

No caso do trigo, a Índia pode impactar o mercado pelo lado da demanda. Há rumores de que o governo central da Índia está considerando importar 9M mt de trigo da Rússia por meio de um acordo entre governos para aumentar os estoques domésticos em meio ao aumento dos preços internos.

Caso os rumores se confirmem, será a primeira vez que a Índia - segunda maior produtora de trigo do mundo – importará quantidades significativas de trigo desde 16/17. O aumento dos preços internos pode ser atribuído a uma confluência de fatores, incluindo a redução da produção pelo clima adverso, a diminuição das reservas e o aumento da demanda.
Figura 4:  Exportações de Açúcar Bruto – Índia (‘000 ton)

Fonte: USDA

Em resumo

Diferentemente das principais economias globais, a Índia tem observado uma aceleração da sua inflação. Esse processo tem sido ancorado na inflação de alimentos, dado que a produção de diversas culturas no país foi impactada por condições climáticas adversas.

Embora inicialmente possa parecer um problema localizado, quando se considera que se trata da quinta maior economia do mundo, com um papel fundamental em vários mercados de commodities agrícolas, aumenta a probabilidade desse problema ser 'exportado' para outras economias.

Como foi mostrado ao longo do relatório, as medidas do governo indiano para controlar os preços internos de diversos produtos – como o arroz, açúcar e trigo – pode trazer uma pressão altista para os mesmos e acelerar a inflação de alimentos global.
Caso isso ocorra, os bancos centrais mundo afora podem ter de manter suas taxas de juros altas por mais tempo do que se espera atualmente – impactando a atividade econômica global e provavelmente aumentando a aversão a risco no médio-longo prazo. Esse movimento seria negativo para commodities e positivo para ativos vistos como mais seguros – como o dólar e títulos de dívida americanos, por exemplo.

Fonte: USDA (* Volume a ser importado da Rússia segundo rumores)

Relatório Semanal — Macro

Escrito por Alef Dias
alef.dias@hedgepointglobal.com

Revisado por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

www.hedgepointglobal.com

Aviso legal

Este documento foi preparado pela hEDGEpoint Global Markets LLC e suas afiliadas (‘HPGM”) de forma exclusiva para fins informativos e instrutivos, sem a finalidade de instituir obrigações ou compromisso com terceiros, bem como, não pretende promover oferta, ou solicitação de oferta, de venda ou compra relativos a quaisquer valores mobiliários ou produtos de investimento.

A HPGM não atua como Consultor/Assessor de Negociação de Commodities oferecendo negociação personalizada ou consultoria de investimento aos clientes. Os clientes devem confiar em seu próprio julgamento independente e em consultores/assessores externos antes de entrar em qualquer transação introduzida pela empresa.

A HPGM e seus associados se eximem expressamente de qualquer uso das informações aqui contidas, que derivem prejuízos ou danos de forma direta ou indireta de qualquer espécie. Em caso de dúvidas não resolvidas na primeira instância de contato com o cliente (client.services@hedgepointglobal.com), entre em contato com nosso canal interno de ouvidoria (ombudsman@hedgepointglobal.com) ou 0800-878-8408/ouvidoria@hedgepointglobal.com (somente para clientes no Brasil).


Para acessar esse relatório, você precisa ser um assinante.