Mar 11 / Alef Dias

Relatório Semanal Macroeconomia - 2024 03 12

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China dá sinais de recuperação

  • Desafios significativos têm se mostrado presentes para a economia chinesa. Contudo, desenvolvimentos recentes trouxeram uma melhora das perspectivas para a economia chinesa.
  • O IPC chinês aumentou 0,7% em relação ao ano anterior, quebrando uma sequência de quatro meses de quedas. A leitura ficou acima da expectativa do mercado de um aumento de 0,3%.
  • O primeiro orçamento do primeiro-ministro chinês Li Qiang indicou um forte compromisso com o crescimento. A meta de 5% para 2024 estabelece um patamar elevado, dada uma base mais desafiadora do que a do ano passado - e atingi-la exigirá mais estímulos.
  • O crescimento das exportações acelerou para 7,1% em termos anuais em janeiro-fevereiro, em comparação com 2,3% em dezembro, ficando acima da estimativa de consenso (1,9%). Já as importações cresceram 3,5% em termos anuais no período de dois meses, após um aumento de 0,2% em dezembro, superando a previsão do consenso (2,0%).
  • Contudo, muitos dos desafios ao crescimento econômico chinês persistem, exigindo certa cautela

Introdução

Desafios significativos têm se mostrado presentes para a economia chinesa. O setor imobiliário apresenta fraquezas, com cada vez menos estímulos, o desemprego entre os jovens cresceu, a moeda sofreu forte desvalorização no último ano e o cenário deflacionário tem adicionado mais riscos para a atividade econômica chinesa.

Contudo, desenvolvimentos recentes trouxeram uma melhora das perspectivas para a economia chinesa. A partir desses novos dados, vamos atualizar nossa visão para a China e seus possíveis impactos sobre as commodities.

País retorna à inflação, mas risco deflacionário persiste

O IPC chinês aumentou 0,7% em relação ao ano anterior, quebrando uma sequência de quatro meses de quedas. A leitura ficou acima da expectativa do mercado de um aumento de 0,3%. Em uma base mensal, o IPC subiu 1,0%.

A deflação mais lenta dos preços de alimentos foi o principal fator por trás do aumento do IPC. A queda nos preços dos alimentos diminuiu para -0,9% em termos anuais, de -5,9% em janeiro. A demanda relacionada ao feriado do Ano Novo Lunar provavelmente deu um impulso a esses preços.

Os preços mais altos de viagens - provavelmente impulsionados pela demanda do feriado - foram outro motivo importante. Esses preços aumentaram 23,1% em relação ao ano anterior, acelerando em relação ao aumento de 1,8% registrado em janeiro. O clima adverso, com chuva congelante no centro da China em meados de fevereiro, também alimentou as pressões de alta nos preços de alimentos e viagens.

Apesar do resultado positivo para a atividade econômica, os fatores que levaram ao fim da deflação são temporários. O índice de preços ao produtor, que tende a ser muito menos afetado pelos feriados do Ano Novo Lunar, caiu 2,7% em relação ao ano anterior, mais do que a queda de 2,5% de janeiro. Isso foi mais acentuado do que a estimativa de consenso de uma queda de 2,5%.


Figura 1: Inflação do Consumidor e Produtor - China (%)

Fonte: National Bureau of Statistics of China

Meta de crescimento mostra comprometimento com a atividade econômica, mas política fiscal é desafiadora

O primeiro orçamento do primeiro-ministro chinês Li Qiang indicou um forte compromisso com o crescimento. A meta de 5% para 2024 estabelece um patamar elevado, dada uma base mais desafiadora do que a do ano passado - e atingi-la exigirá mais estímulos.

Contudo, o déficit orçamentário mais forte do que o esperado é consistente com a meta ambiciosa. A meta é consideravelmente mais alta do que a projeção consensual de que a economia chinesa se expandirá 4,5%. Ela também está acima do crescimento potencial para o ano, estimado em 4,9%.

O governo definiu o déficit orçamentário fiscal amplo em 8,96 trilhões de yuans, ou 6,6% do PIB. Isso inclui um déficit de 4,06 trilhões de yuans (3,0% do PIB) no orçamento geral, 1 trilhão de yuans em emissão de títulos especiais pelo governo central e 3,9 trilhões de yuans em títulos especiais do governo local. Esse valor é maior do que o déficit orçamentário original do ano passado, que foi fixado em 5,9%.

Em 2023, os governos locais atrasaram os gastos, impactando o crescimento. O risco é que isso aconteça novamente este ano. As restrições à expansão da dívida dos governos locais podem impedir a execução de projetos, já que os recursos locais correspondentes são normalmente necessários para grandes projetos.

A força da confiança do setor privado também determinará a eficácia da política fiscal. A menos que haja uma mudança no sentimento, o investimento privado será lento - e o governo não pode, sozinho, gerar uma recuperação duradoura.

Figura 2: Índice Estímulo Fiscal GS - China

Fonte: Bloomberg

Figura 3: PIB China (%, a.a.)

Fonte: Refinitiv

Setor externo tem resultados sólidos, mostrando recuperação frente 2023

O crescimento das exportações acelerou para 7,1% em termos anuais em janeiro-fevereiro, em comparação com 2,3% em dezembro, ficando acima da estimativa de consenso (1,9%). O aumento no crescimento das exportações refletiu, em parte, os efeitos da base estatística. No mesmo período do ano anterior, os embarques caíram 8,4%, antes de se recuperarem com um crescimento de 10,9% em março.

Ainda assim, a retração mês a mês nas exportações - devido às interrupções do Ano Novo Lunar - foi menor do que a queda sazonal típica. Contudo, os primeiros indicadores da demanda externa apontam para um quadro fraco para o início de 2024.

Os PMIs de manufatura dos EUA (ISM), da zona do euro e do Japão sinalizaram contrações mais profundas em fevereiro, após breves recuperações em janeiro. Um indicador de novos pedidos de exportação no PMI industrial oficial da China também mostrou uma contração mais profunda em fevereiro.

As importações cresceram 3,5% em termos anuais no período de dois meses, após um aumento de 0,2% em dezembro, superando a previsão do consenso (2,0%). As importações caíram 5,5% em 2023, embora o último trimestre tenha sido mais firme, com um aumento de 0,8%.

O crescimento das importações também se beneficiou de efeitos de base mais favoráveis. São necessários mais dados nos próximos meses para avaliar se o estímulo recente está alimentando a economia e aumentando a demanda de forma sustentável.

Olhando para a demanda por grãos, os dados seguem positivo. As importações acumuladas de milho na safra 23/24 estão nos níveis mais altos dos últimos anos, enquanto dados da Refinitiv apontam que as importações de trigo da China em fevereiro atingiu o maior nível mensal dos últimos 5 anos.

Contudo, a demanda por soja não tem demonstrado a mesma força. As importações de soja da China em janeiro-fevereiro caíram 8,8% em relação ao ano anterior, para 13,04M mt, segundo dados preliminares divulgados pela Administração Geral de Alfândega do país (GACC). Esse é o nível mais baixo observado para o período em cinco anos.

Figura 4: Exportações e Importações – China (%, a.a.)

Fonte: China Customs

Em Resumo

Dados recentes têm trazido mais otimismo em relação à economia chinesa. O país deixou o território deflacionário - pelo menos por enquanto. O governo mostrou metas fiscais ambiciosas para 2024 e os primeiros resultados no comércio externo do ano foram positivos.

Contudo, muitos dos desafios do crescimento econômico chinês persistem, exigindo certa cautela - a execução do déficit fiscal e retomada da confiança do setor privado são chaves para uma mudança sustentável no panorama da economia chinesa.

Olhando para os mercados de grãos e oleaginosas, a demanda por milho e principalmente trigo segue aquecida enquanto as importações de soja vem caindo em meio a estoques mais altos e esmagamento mais lento, seguindo a demanda fraca pelo farelo.


Relatório Semanal — Macro

Escrito por Alef Dias
alef.dias@hedgepointglobal.com

Revisado por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

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