Jul 2 / Victor Arduin

Relatório Semanal Macroeconomia - 2024 07 02

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Ganha força corte de juros em setembro nos EUA

  • Ao longo de 2024 o corte de juros nos EUA foi adiado por conta de uma inflação resiliente e dados altistas em relação ao emprego e atividade econômica americana.
  • No entanto, semana passada dados do PCE trouxeram esperanças que nos próximos meses poderá ocorrer uma flexibilização da política monetária americana, algo que poderá ter um profundo impacto no mercado de commodities.
  • Um dos maiores desafios à frente é observar uma suavização no mercado de trabalho, um dos principais vetores inflacionários devido ao aumento do emprego e dos ganhos reais de salário. No entanto, uma desaceleração poderá ser evidenciada no relatório de 5 de julho.
  • Ainda, a eleição americana traz incertezas sobre os rumos da maior economia do mundo, onde um persistente déficit orçamentário fornece fundamentos para a apreciação do dólar, mesmo em um ambiente de corte de juros.

Introdução

A política monetária americana, conduzida pelo Federal Reserve (Fed), possui um profundo impacto na economia global. O atual nível restritivo dos juros traz fundamentos de apreciação para o dólar, uma das principais moedas no mundo, mas traz desafios para o comércio internacional.

No mercado de commodities, por exemplo, onde grande parte dos contratos são negociados em dólares, uma apreciação da divisa americana pode significar redução na demanda por detentores de outras moedas que agora possuem menor poder de compra. Por conta disso, o mercado olha atentamente sinais de uma eventual flexibilização da política monetária na maior economia do mundo.


Nesse sentido, vamos discutir nesse relatório quais as principais variáveis a serem observadas na próximas semanas que serão decisivas para uma mudança do cenário monetária americano.


Figura 1: EUA – Inflação IPC (%)

Fonte: Bureau of Labor Statistics

Figura 2: EUA – Inflação PCE (%)

Fonte: BEA

Até metade 2024 houve uma piora na percepção da inflação no país

Como comentado em relatórios anteriores, o corte da taxa de juros nos EUA, um dos eventos mais aguardados do ano, foi adiado devido a vários indicadores mostrarem resiliência da inflação e da atividade econômica ao longo do primeiro semestre. O rendimento do título de 2 anos atingiu mais de 4,72%, um aumento de 50 pontos-base em relação ao final de 2023. Essa elevação reflete o aumento da incerteza e da aversão ao risco no mercado.

Os dados mais recentes acendem a esperança de flexibilização da política monetária já em setembro. Na semana passada, o PCE (Personal Consumption Expenditures), uma das métricas mais acompanhadas pelo Fed, desacelerou de 2,8% em abril para 2,6% em maio. Além disso, os dados do ISM de manufatura indicaram leve aprofundamento da contração do setor, para 48,5.

Apesar de não serem suficientes para determinar uma flexibilização da política monetária, são sinais positivos que o processo desinflacionário segue em curso no país. Mas, talvez, um dos dados mais importantes ainda esteja por vir e que terá importante impacto na percepção sobre a inflação no país.
Figura 3: EUA – Rendimentos Tesouro Americano (%)

Fonte: Bloomberg

Ainda forte, o mercado de trabalho é uma das principais preocupações

Um dos maiores desafios para uma mudança na política monetária americana tem sido a resiliência no mercado de trabalho do país, em especial no setor de serviços, que tem sido responsável por adicionar pressão inflacionária por conta do crescimento do emprego e aumento real dos salários.

O payroll mensal, que acompanha cerca de 80% da força de trabalho do país, revelou a criação de 272 mil novas vagas de emprego, o segundo maior número dos últimos seis meses. O Fed, conforme repetido pelo seu presidente, precisa de mais confiança para iniciar um corte na taxa de juros, um sinal que parece não estar vindo do mercado de trabalho.

As próximas semanas serão cruciais para determinar quais ações serão decididas pelo Fed em sua reunião no final do mês, com destaque para o relatório do payroll em 5 de julho. Se a inflação continuar mostrando sinais de arrefecimento, o Fed poderá sinalizar (forward guidance) um corte na taxa de juros. No entanto, se o cenário inflacionário piorar, a manutenção do patamar restritivo atual é o mais provável.
Figura 4: EUA – Relatório de Emprego (Payroll) Não-agrícola

Fonte: IBGE

Período eleitoral poderá trazer mais incertezas que certezas

No âmbito político também existem incertezas que podem impactar a inflação e juros assim como a trajetória para dólar. Alguns possíveis cenários que poderemos observar em um eventual novo governo Biden ou Trump.

Se por um lado uma administração democrata deverá manter uma política energética focada na proteção ao meio-ambiente resultando em custos energéticos maiores, por outro lado um menor nível de protecionismo aliviará a pressão sobre bens e serviços beneficiando a economia americana em uma maior integração com o mundo, em especial com a China.

Já uma administração Trump poderá trazer desregulamentações que incentivarão o uso de combustíveis fósseis tornando o custo energético menor, mas também poderá elevar o protecionismo no país para incentivar atividade econômica doméstica resultando em uma forte pressão inflacionária.

Independente do novo presidente nos Estados Unidos, há um problema a ser enfrentado para os próximos anos. A gradual piora do cenário fiscal americano persiste, com um déficit orçamentário de 6% do PIB e uma dívida pública superior a 34 trilhões de dólares. Mesmo que o Fed encontre espaço para baixar a taxa de juros no futuro, o dólar ainda poderá se fortalecer devido aos prêmios mais altos oferecidos pelos títulos do Tesouro americano, utilizados para financiar os gastos do governo.

Em Resumo

O corte de juros nos EUA é um dos eventos mais aguardados para 2024, mas a persistente inflação no país frustrou expectativas do mercado que esperavam ver uma flexibilização na política monetária americana ainda em março.

Ainda com elevadas incertezas, os números mais recentes sugerem que o processo desinflacionário continua em curso e ganhou força em maio. Caso os dados do payroll mostrem uma desaceleração no mercado de trabalho em junho, há boas chances de vermos um comunicado mais dovish no próximo encontro do Fed, sugerindo que um corte de 25 pontos-base ocorrerá em setembro.

No entanto, a corrida presidencial nos EUA poderá lançar incertezas sobre a trajetória da economia do país para o ano que vem, o que pode obrigar o Fed a adotar uma postura mais cautelosa.

Relatório Semanal — Macro

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Alef Dias
alef.dias@hedgepointglobal.com

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