Dec 2 / Victor Arduin

O câmbio brasileiro pode enfrentar um ambiente ainda mais desafiador em 2025

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O câmbio brasileiro pode enfrentar um ambiente ainda mais desafiador em 2025

  • O anúncio do pacote fiscal pelo governo, que inclui a revisão de gastos e a reforma do imposto de renda, gerou incerteza e aversão ao risco no mercado, resultando na cotação do dólar acima de R$ 6,00 pela primeira vez na história.
  • Num cenário fiscal mais deteriorado pelas expectativas do agentes econômicos, os juros futuros subiram significamente na semana passada, superando a marca dos 14% na última sexta-feira.
  • A baixa nos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, deve reduzir o superávit comercial do Brasil para próximo de 80 bilhões de dólares em 2024, uma queda de aproximada de 20% em relação a 2023.
  • O novo governo Trump, com suas possíveis políticas protecionistas, tem contribuído com a percepção de que os juros seguirão elevados por mais tempo nos EUA, afetando moedas globalmente, em especial de países emergentes com quadro fiscal incerto como o Brasil.

Introdução

Em meio a um quadro fiscal delicado e a desafios externos crescentes, o real tem sido uma das moedas mais depreciadas do mundo em 2024. Essa situação representa um problema crescente para as autoridades do país, já que um dólar mais caro pode implicar em uma inflação mais alta, levando a juros maiores e, inevitavelmente, a um crescimento econômico menor.

Havia expectativas de que o anúncio da revisão de gastos proposto pelo governo traria mais detalhes sobre como o país alcançaria o equilíbrio das contas públicas. No entanto, o mercado ficou frustrado aumentando a percepção de deterioração dos fundamentos fiscais do país, o que resultou no dólar atingindo seu maior valor histórico, acima de 6 reais.

Ao que tudo indica, o próximo ano pode apresentar um ambiente ainda mais desafiador para a apreciação do real. Dada a importância da taxa de câmbio para a economia brasileira, iremos abordar alguns dos principais riscos que podem impactar a moeda brasileira em 2025.

Figura 1: Brasil - Fluxo Cambial Mensal (US$ Bilhões)

Fonte: Bloomberg

Figura 2: Modelo de Pareamento (USD/BRL)

Fonte: Hedgepoint

Pacote fiscal trouxe mais preocupações ao mercado

Após meses de muita espera, o governo fez o anúncio do pacote fiscal que pretende implementar para alcançar o equilíbrio das contas públicas através da economia de R$ 70 bilhões até 2026. Apesar do anúncio trazer pontos positivos a respeito de revisão de gastos, o anúncio conjunto da reforma do imposto de renda, estendendo a isenção para salários até R$ 5 mil, resultou em um ambiente de muita incerteza para o mercado, refletindo no dólar acima de R$ 6,00 pela primeira vez na história.

A forte depreciação da moeda brasileira terá reflexos na inflação, que pode superar o teto da meta (4,5%) este ano. O Bacen (Banco Central do Brasil) terá que realizar uma política monetária ainda mais restritiva para frear a elevação dos preços, conduzindo a atividade econômica para um crescimento menor em 2025. Ainda, outros indicadores importantes evidenciam a piora das expectativas dos agentes econômicos, por exemplo os juros futuros de dois anos superando os 14% na última sexta-feira, resultando em juros reais acima de 7%. Com as taxas de empréstimos nesse patamar, a tendência da trajetória da dívida pública é crescer mais rápido, podendo superar os 84% até o final de 2026 conforme projeções do mercado.
Figura 3: Brasil - Dívida Pública (%, PIB)

Fonte: Refinitiv

Fundamentos externos contribuem para a desvalorização do real

Outros indicadores geram preocupações, como mostra o fluxo cambial brasileiro, que reflete a entrada e saída de dólares nas contas comercial e financeira. A queda nos preços das commodities, especialmente petróleo e minério de ferro, tem pressionado o superávit comercial do Brasil. Em 2024, este pode ficar próximo de 80 bilhões de dólares, representando uma redução de aproximadamente 20% em relação aos 98,8 bilhões registrados em 2023. Ainda, o ambiente de maior incerteza esse ano tem provocado considerável fuga de capitais, que pode superar os 80 bilhões de dólares em 2024. Esse movimento é reforçado pela tendência sazonal observada em dezembro, quando costuma haver um forte aumento no envio de recursos para o exterior.

O dólar americano também tem se valorizado frente às moedas globais nas últimas semanas, registrando uma alta de aproximadamente 1,69% no mês de novembro. Esse movimento é impulsionado pela agenda da nova administração Trump que prevê um conjunto de políticas protecionistas., muitas das quais possuem alto impacto inflacionário, o que pode influenciar o ritmo de cortes nas taxas de juros nos EUA em 2025. Nesse cenário de maior aversão ao risco, moedas de países emergentes, como o real brasileiro, tendem a se depreciar de forma mais acentuada.
Figura 4: BRL vs. DXY

Fonte: Bloomberg

Em Resumo

O conjunto de medidas anunciadas pelo governo frustrou as expectativas do mercado, que esperava um ajuste estrutural mais amplo, capaz de estabilizar a dívida/PIB no país, que pode superar a marca dos 84% até o final de 2026.

Como consequência, observamos uma forte depreciação da moeda brasileira na semana passada, que pode ter um efeito altista sobre a inflação e obrigar o Banco Central brasileiro a restringir ainda mais a política monetária.

Nesse contexto, o crescimento econômico para 2025 pode ser menor, tornando ainda mais difícil o equilíbrio das contas públicas, bastante ancoradas até aqui no aumento das receitas.

Não apenas questões domésticas trazem pressão ao real, mas o ambiente externo segue bastante incerto em relação aos EUA e suas políticas protecionistas, com impacto inflacionário, podendo afetar o ritmo de corte de juros no país para o próximo ano.

Portanto, o cenário para 2025 pode permanecer bastante desafiador para moedas de países emergentes como o Brasil, em que fatores domésticos e externos criam pouco espaço para uma apreciação.

Relatório Semanal — Macro

Escrito por Victor Arduin
victor.arduin@hedgepointglobal.com

Revisado por Livea Coda
livea.coda@hedgepointglobal.com

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