Apr 4 / Ignacio Espinola e Luiz Fernando Roque

Atualização de Mercado - Guerra Comercial e Intenção de Plantio

• Novo regime tarifário dos EUA traz novas dinâmicas aos mercados
• Intenção de plantio: menor área para soja e trigo e maior para milho
• Biocombustíveis EUA: aumento de 14% para 17% no mix de biodiesel em Illinois

Novo regime tarifário dos EUA

Na última quarta-feira, dia 2 de abril, o presidente Donald Trump anunciou o novo regime tarifário dos EUA. Ele escolheu a chamada "dia da libertação” para o anúncio.

A ideia básica é que, para cada país que já tenha tarifas de importação sobre produtos de origem norte-americana, os EUA aplicarão uma tarifa equivalente a 50% ou mais como retaliação. Esse é o maior aumento de impostos visto nos EUA em 95 anos. O anterior foi em 1930, e o primeiro foi em 1828. Importante lembrar que estes dois anteriores causaram depressões econômicas.
Esse anúncio já teve efeito sobre vários índices importantes, como DXY, Dow Jones, S&P500, ouro e vários outros. Para o setor de commodities, a situação não é tão fácil de prever.

Por um lado, os EUA perderão competitividade em relação a outras origens, o que provavelmente levará a alguns esforços para outros países mais favoráveis em termos de custo/impostos. Isso deve empurrar os preços para baixo, especialmente no lado do mercado físico.

A queda do índice DXY, que mostra a força relativa do dólar americano em relação a outras moedas, pode beneficiar os EUA, pois o tornará mais atraente para os compradores, que poderão gastar menos dólares em termos relativos.
Por outro lado, em alguns casos, o efeito pode ser misto. Quando olhamos para os óleos, por exemplo, as exportações de óleo de soja nos EUA estão atualmente superando a estimativa do USDA, enquanto as recentes tarifas podem afetá-las. Mas, ao mesmo tempo, um dólar americano mais fraco deve aumentar a diferença real entre o óleo de soja e o óleo de palma, que já está a favor do óleo de soja como o óleo mais barato disponível.

Para outras commodities, como soja ou milho, a situação não é tão simples. Por um lado, a China já reduziu sua dependência da soja dos EUA em 35% no ano passado e a expectativa é que continue a reduzi-la. Se também levarmos em consideração a excelente safra brasileira de soja, parece que o Brasil continuará a aumentar sua participação de mercado em relação aos EUA, o que aumentaria os estoques norte-americanos, fazendo com que os preços na CBOT caiam para serem mais competitivos. Do lado do milho, a boa safra brasileira e a falta de apetite de compra de outros países, como a China, que importou 23 M tons no ano passado e deve importar apenas 8 M tons neste ano, também devem aumentar a disponibilidade de milho nos EUA, pressionando os preços para baixo.

Por fim, ainda é muito cedo para ter uma visão clara das implicações desse aumento histórico de tarifas. O mercado ainda está tentando encontrar seu caminho e os países estão avaliando como responderão a essas mudanças recentes. Não será surpresa se retaliações ou até mesmo novos acordos comerciais ocorrerem nos próximos dias ou semanas. Por exemplo, a China respondeu aos anúncios de tarifas dos EUA com tarifas retaliatórias de 34% sobre todas as importações dos EUA, a partir de 10 de abril. Essa tarifa incluirá a soja e ainda não está claro se esses 34% serão adicionados aos atuais 10% para uma tarifa total de 44% ou se substituirá os 10% reais para um 34% final. Se pegarmos 44% e adicionarmos o imposto de 3% e o IVA de 9%, a taxa efetiva ficaria em torno de 60%, o que poderia afetar as importações de soja dos EUA para a China, que vêm diminuindo em favor do Brasil nos últimos anos.

As tarifas de Trump: dia da libertação

Relatórios de intenção de plantio e estoques trimestrais dos EUA trazem vieses opostos

Semana cheia em Chicago. Na segunda-feira (31), o relatório do USDA de “intenção de plantio” da nova safra norte-americana confirmou o viés esperado pelo mercado, indicando uma redução na área de soja e um aumento na área de milho na temporada 25/26, que começa a ser semeada este mês nos Estado Unidos. Apesar disso, os números vieram um pouco diferentes dos esperados.

O USDA indicou que a área de soja dos EUA em 25/26 deve ser de 33,8 M ha, com queda de 4,1% em relação à área semeada em 24/25 (35,3 M ha). O número ficou abaixo da média das estimativas do mercado, que apontava para uma área de 33,9 M ha.
Já no milho, o USDA indicou que a área de milho dos EUA em 25/26 deve ser de 38,6 M ha, com aumento de 5,2% em relação à 24/25 (36,6 M ha). Ao contrário da soja, o número do milho ficou acima da média das expectativas do mercado, que apontava para uma área de 38,2 M ha.

Intenção de Plantio 25/26 EUA (M ha)

Fonte: USDA, Bloomberg, Hedgepoint

Área Plantada EUA (M ha)

Fonte: USDA, Bloomberg, Hedgepoint


Diante disso, o relatório de intenção de plantio foi considerado “altista” para a soja e “baixista” para o milho, visto o menor potencial produtivo para a oleaginosa e maior potencial produtivo para o cereal na nova temporada norte-americana. Entretanto, os contratos futuros em Chicago responderam com oscilações mistas, não exatamente na direção esperada. Tal fato se deve, em parte, pela divulgação do Relatório de Estoques Trimestrais Norte-Americanos em 1º de março, que trouxe dados com vieses opostos aos de área.

No caso da soja, o relatório indicou estoques trimestrais acima do esperado pelo mercado e acima do registrado em mesmo período do ano passado (+4%). Já no milho, o relatório trouxe estoques trimestrais abaixo do esperado pelo mercado e abaixo do registrado em mesmo período de 2024 (-2%).

De uma forma geral, tais dados impediram maiores ajustes nos contratos futuros em Chicago em relação às áreas da nova temporada norte-americana, trazendo um ponto de atenção adicional para o mercado em relação à demanda.

De qualquer forma, tais estimativas, neste primeiro momento, podem ser consideradas um fator secundário, com o foco do mercado voltando-se diretamente para as tarifas de Trump.

Atividade dos preços

Após os relatórios de segunda-feira (31), Chicago reagiu com alguns movimentos de preços interessantes. No que diz respeito à atividade de preços, o complexo soja terminou o dia com números vermelhos, com a soja fechando o dia com um movimento de -8,25 cts/bu, os futuros do farelo de soja em -0,8 cts/st e os futuros do óleo de soja com -0,27 cts//lbs.

Com relação aos grãos, o milho e o trigo fecharam com números verdes, com o milho fechando 4 cts/bu acima e o trigo fechando 8,75 cts/bu.

Evolução dos preços entre os dois últimos relatórios COT:

Fonte: Reuters


Há também outros fatores que devem afetar o mercado: tarifas do governo Trump, clima para o plantio e desenvolvimento nova safra norte-americana e possíveis revisões nos mandatos dos biocombustíveis nos EUA.

Para as próximas semanas, o mercado começará a prestar mais atenção ao clima nos EUA para a evolução das diferentes safras, às relações comerciais entre os EUA e o resto do mundo e à evolução da demanda, que neste momento está muito focada no programa de soja brasileiro (os compromissos de exportação até agora somam um total de 37,3 M tons, um aumento de 17,7% em relação ao ano anterior, com um total de 15,8 M tons no line-up dos portos para abril.

Biocombustíveis EUA

No estado de Illinois, nos EUA, o mandato de biodiesel foi elevado de 14% para uma mistura de 17% a partir de 1º de abril. O objetivo de médio a longo prazo é aumentar o mandato para 20%, mas a data ainda não foi confirmada.

A coalizão de grupos de petróleo e biocombustíveis está tentando pressionar por mandatos de diesel de biomassa na faixa de 5,5 a 5,75 bilhões de galões com a EPA, o que está muito longe do nível atual de 3,35 bilhões de galões. Eles dizem que a indústria de biocombustíveis está muito abaixo da capacidade de produção. Este novo mandato adicionaria um fator positivo ao complexo soja no lado da demanda, o que pode trazer algum suporte aos preços.

Escrito por Ignacio Espinola E Luiz Fernando Roque
ignacio.espinola@hedgepointglobal.com
luiz.roque@hedgepointglobal.com


Revisado por  Luiz Fernando Roque
luiz.roque@hedgepointglobal.com

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